quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Livre como Eu

 Houve poucas ocasiões na vida em que pensei "hoje nasce uma nova Cláudia". Tive uma dessas ocasiões esta semana. Foi um dia normal no qual materializei uma decisão que vinha a matutar (ou maturar) há muito, foi o primeiro passo de (mais) uma mudança na minha vida. Foi uma decisão completamente banal, ainda que bastante ponderada, tomada por milhões de pessoas todos os dias à volta do mundo. Mas para mim requereu grande coragem. 

    E foi um dos momentos em que voltei a pensar para mim mesma "hoje nasce uma nova Cláudia". Afinal, nem todos os momentos transformativos da nossa vida têm de se dar em contextos "wow", como quando ouvimos pela primeira aquela música que fica a ser uma das nossas favoritas, quando estamos a dançar de braços abertos numa discoteca sob o efeito de substâncias psicoativas, quando nos apercebemos da beleza real das mais pequenas coisas quando num momento de pura contemplação olhamos o que nos rodeia e começos a olhá-las com outras lentes, quando nos apaixonamos pela primeira vez, quando damos o nosso primeiro beijo, quando temos o primeiro orgasmo, ou seguramos uma bebé recém-nascida e pensamos como é possível tamanha perfeição nos nossos braços, quando olhamos no olhar de alguém e vemos lá o nosso mundo, enfim, em momentos de realização, eureka, das coisas mais elementares da vida, do quão ela é grandiosa e efémera ao mesmo tempo, de como ela se resume àquele sentimento. Intenso, sempre.

    Não, nem todos os momentos transformativos se dão nesses contextos nem com essa intensidade. Há alguns que se dão mesmo em momentos quase banais. 

    A minha intenção para este ano surge agora no final do segundo mês e é expressar mais a minha essência de liberdade.

    Quero ser livre das imposições que coloco a mim mesma. Quero tornar-me mais livre dos meus próprios preconceitos. Quero tornar-me mais livre das expectativas, minhas e dos outros. Mais livre da necessidade de validação dos meus sentimentos, desejos e decisões. Mais livre da obrigatoriedade de "ter de ser social", "ter de lidar com mais pessoas", "sair do meu casulo". (e se eu não quiser sair desse casulo? E se eu apreciar momentos mais reservados, mais virados para mim mesma, em que não quero ter de lidar com absolutamente ninguém fora do meu núcleo mais próximo? E então se esse modo de vida não encaixa comigo, não funciona?). Mais livre dos "e vão pensar que", "e vão dizer". Mais livre dos outros. 

    Mais livre das minhas próprias concepções do "devo ser assim", "devo fazer isto", "não devo fazer aquilo". Mais livre dos "deves" e "não deves!" 

    Mais livre da ideia de que viver permanentemente fora da zona de conforto para crescer, é bom. (é bom sim, mas há uma altura em que sabe - e faz! - virar as costas a esse desconforto constante que se torna mais prejudicial do que benéfico).

    Mais livre das correntes que amarro a mim mesma quando me obrigo a fazer algo que contraria a minha essência. E insisto e insisto e estico a corda até mais não, sob o mote de "ter espírito de sacrifício", "não posso desistir", "fica mal se", "já tenho idade para". Pensar um pouco menos nas consequências de todos os meus passos e ações, agir como o meu espírito "manda" mesmo que seja o oposto ao que o racional "manda". Ouvir o meu sexto sentido, sempre. Não resistir tanto a obececê-lo.

    Livrar-me da necessidade constante de ter tudo sob controlo. Deixar que as coisas fiquem mesmo fora de controlo! Abraçar o descontrolo.

    Enfim, mais livre de todos esses pensamentos que me retraem, me prejudicam e impedem de viver a vida como eu acho que ela tem de ser vivida, no meu íntimo - aquele íntimo mesmo que temos dificuldade em escutar devido a todo o ruído que a nossa da cabeça faz. Viver a vida só faz sentido se for com propósito, com sentido, com significado. Em todas as esferas da vida. E quando assim não é, tudo o resto é só mesmo e nada mais que ruído. Chega a um ponto em que nada acrescenta.

    E foi assim que, num dia desta semana, um dia banal, um passo foi dado neste sentido. E quando regressava a casa, tive um desses poucos momentos, "hoje nasceu uma nova Cláudia. Mais livre".

    Gosto de falar de mim, mas nem sempre consegui encontrar as palavras certas ou algo em particular que me descreva. Soava tudo a coisas muito clichés e eu gosto de coisas bonitas e não clichés! 😂
    Mas uma coisa eu sei, é como se fosse um mantra para mim: não vivo bem se não viver de acordo com aquilo a que chamo de "minhas verdades", a cada instante. Não é uma missão de vida ou um propósito, é apenas a minha essência e aquilo que eu sinto que se alinha comigo. É fazer aquilo que eu sinto como verdade, a cada dado instante, aquilo que eu avalio que faz sentido, e que pode mudar, independentemente de todo aquele ruído, conceitos e preconceitos, pessoas, influências externas, e tudo o mais. E fazer isso é sem dúvida uma coisa mais difícil do que aquilo que parece! Tantas e tantas vezes contrariei isso, insistindo em coisas, pessoas, situações, lugares, profissões, meios, modos de vida que chocavam com aquilo que é a minha essência, levando-me a nada mais que um limite em que já nem me conhecia a mim mesma, em que de certa forma estava a ser desleal comigo mesma, e tive de me libertar disso. (Talvez isto soe demasiado esotérico, mas lá está, é daquelas coisas que me faz sentido e que nem sempre consigo transpor em palavras.) Sempre com aquela dose de idealismo com a qual fui dotada e que me permite acreditar que podemos, sim, viver uma vida plena, satisfatória, feliz, sem que sejamos vítimas das nossas próprias falhas, falácias, limitações, e entregues ao que não nos cai bem só porque assim tem de ser. Há alternativa. Há sempre alternativa.

    Neste espaço, irei partilhar tudo o que me aprouver. Tudo o que tiver a ver comigo, com a minha vida e sobretudo com, lá está, as tais minhas verdades. Nem sempre vão ser textos bonitos. Às vezes podem ser imagens, música, uma frase apenas, coisas random do dia a dia porque as coisas random e banais também são importantes. Sei que a Cláudia do futuro, espero eu, um pouco mais liberta ainda do que é hoje, irá agradecer (como hoje em dia agradeço quando me ponho a ler os milhentas textos que fiz nas dezenas de blogues que já tive - e que depois fui abandonando e substituindo por outros, sempre que mudava de pele, em fases disruptivas de "agora nasce uma nova Cláudia, isto já não me serve, isto já não encaixa, vou viver a minha nova pele"). 

Aqui serei mais livre. 
Livre como Eu! 

3 comentários:

  1. Sou um sortudo por ter amigos como tu!

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  2. Por isso gosto tanto de ti!! Adorei o post!!

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  3. Que bom regresso ao mundo da escrita publica. Não estou a conseguir colocar o meu nome pelos comentários, tendo de ser assim... Ricardo, O Informador.

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