A
vida tem seguido e tenho feito um esforço mais consciente para deixar que as
coisas - externas e internas - simplesmente venham a mim, e não lhes tenho
resistido como fazia antes, em que vivia ao máximo tudo o que era bom (e eu sou
pessoa de espalhar aos 7 ventos quando me sinto na maior), mas continuava a
esconder os esqueletos no armário.
Há
pouco mais de uma semana, fiz 33 anos. Ao contrário dos anos anteriores - e
porque adoro fazer anos! - não planeei nada grandioso com antecedência. Deixei
que o dia chegasse para decidir o que fazer. E foi um dia ótimo! Tinha apenas
um plano (que se cumpriu), em que fiz uma coisa totalmente nova, e só isso já
valeu por tudo, pois eu amo fazer coisas novas 😃
É
assim que tenho feito na vida, sinceramente. Deixo-a correr, de forma
fluída, deixo-me levar um bocado ao sabor das coisas, mas desta vez muito mais
presente. Muito mais, mesmo. Às vezes, dolorosamente consciente.
Intenso, sempre.
Tenho
tido mais momentos triggering, mas não sei se eles agora acontecem
com mais frequência, ou sou eu que estou a olhar mais para eles e a varrê-los
menos para debaixo do tapete. Coisas que eu, deliberadamente, deixava passar,
passavam para os outros, mas para mim não, apesar de eu achar que tinha
passado. Agora, não: qualquer que seja a mínima coisa, realmente páro para
refletir nela, e refletir nas minhas reações a ela, e talvez esta
hipersensibilidade seja um caminho para chegar ao equilíbrio.
Sou
sincera: não me identifico muito com esta forma mais passiva de viver. Eu sou
muito de fazer, mãos na massa, se é para fazer já devia ter sido
ontem. Gosto de ter o controlo, mas controlo de quê? Na verdade, é
tudo um bocado ilusório. Ou não. Ou então temos mesmo o total controlo sobre a
nossa vida. Nós decidimos o que fazer dela. Nós escolhemos que papéis queremos
desempenhar. Entre um pólo e o outro do espectro, ainda não sei bem em qual me
encaixo. Ou às vezes encaixo-me num, outras vezes noutro, ou algures no meio...
À medida que procuro respostas, surgem mais e mais questões...
No
entanto, sinto algum tipo de apelo para realmente parar e observar
mais, observar o mundo externo e o meu mundo interno, abraçar todas as
emoções e finalmente admitir em voz alta que tenho dias de merda e
emoções de merda em que fico no lugar da vítima e da ruminação sem conseguir
sair nesse mesmo dia. Tenho realmente aprendido que aceitar isso faz
parte.
Diria
até que requer consideráveis doses de coragem, beleza e humanidade
nestas lutas internas quotidianas. E tenho-me envolvido
intencionalmente com elas. Tenho feito um esforço para reparar nelas,
deixar que elas ocorram dentro de mim e depois libertá-las. Ainda que, não sei
bem como ou se as liberto mesmo. Há fantasmas que insistem em retornar. E
muitos, mas muitos mesmo, conflitos internos. Só que, agora, eu
vejo-os como oportunidades de aprendizagem, e não como via
antigamente, problemas a serem resolvidos, cuja resolução eu ía sempre adiando
porque não me apetecia enfrentar... E, na realidade, há ainda tantas
coisas que não consigo enfrentar, mas tenho agora mais dois recursos internos que
não tinha e que tenho vindo a fortalecer: a vontade de os enfrentar,
eventualmente (e em busca de como ganhar essa força para os
enfrentar), e as lentes da aprendizagem, de conseguir olhar para
eles com essa sempre pertinente (a meu ver) perspetiva de eterna
aprendizagem, o que posso retirar daqui?
Tenho,
também, feito um esforço para ouvir mais a minha intuição. Ela realmente está
sempre lá, mas eu sou uma pessoa muito mental... Tem de ter lógica, tem de
fazer sentido ao nível racional. Estou a tentar largar um bocado essa
necessidade de controlo e simplesmente ouvir o que a minha intuição me diz.
Muitas vezes, a minha mente foge para a racionalização da própria intuição.
Começo novamente a pensar se faz sentido, ou a racionalizar o que estou a
sentir, se realmente estou a sentir algo, ou se é porque estou mais atenta ao
sentir (uma espécie de "efeito placebo da intuição"). Depois,
chamo-me de volta para o plano do puro sentir. Em relação a este tema em
específico, tenho andado a ler o livro "Mulheres que Correm Com os Lobos", de Clarissa Pinkola Estés, o qual me foi
recomendado por uma amiga, e que recomendo também.
Tenho
resistido à meditação. Não me vejo a fazê-lo nos moldes tradicionais. Tenho um
lembrete no meu calendário para começar a fazer meditações guiadas, que tenho
adiado e adiado. Quero começar a integrar isso na minha vida, mas algo me
impede. Sinto uma certa resistência. Porquê? Ainda estou a tentar entender...
Ou sentir. No fundo, procurar respostas mais através do sentir.
De
qualquer forma, considero que tenha algo de meditativo, quando me chamo para o
lugar do simples observar e me apercebo do julgamento associado a essa
observação.
Quero
muito recomeçar a fazer terapia, e
já devia ter recomeçado mais cedo. Mas o facto é que, hoje em dia, não
me vejo a ter uma terapia convencional. Já passei por N psicólogo(a)s
convencionais e, não lhes retirando qualquer mérito, acabo por sentir que é
tudo muito à base do falar, falar, falar. E sinto que ficava sempre por
uma camada ainda meio que superficial, e realmente sinto que preciso de algo
mais profundo, alternativo, e diria até espiritual. Porque apesar de
sempre ter investido no meu autoconhecimento e no meu próprio melhoramento,
vejo agora que todas as etapas de desenvolvimento pessoal pelas quais passei em
diversas fases da vida, foram muito mentais, muito racionais, e agora estou a
sentir algo mais espiritual, mesmo. Não sei explicar bem, mas por isso, sinto
que preciso de algo mais "fora da caixa". Pesquisei muito, li e
inteirei-me, e descobri uma terapeuta muito específica, só que só tinha vagas
para 2 meses depois. Marquei, agora para maio (já em março), e estou mesmo
muitoooo curiosa e ansiosa para que chegue. Acredito que valerá a pena a
espera.
Uma
coisa que tenho muito tentado fazer é ter sonhos lúcidos. Naquele
momento em que estou a adormecer e começo a sonhar, e sei que estou a
sonhar, tento manter-me nesse estado de saber. Infelizmente,
não tem funcionado. Não tenho tido a sensação de saber que estou a sonhar (para
além daqueles segundos muito iniciais), apesar de me lembrar de partes
concretas dos sonhos. Tenho de pesquisar melhor como treinar isto. Já tive
alguns sonhos lúcidos e adoro.
Enfim,
de um modo geral, estou mais serena. Passei por um período de mais ou menos um
mês e meio de muita conturbação, de muita intensidade, de muito, diria até,
exagero! E sinto que agora estou - talvez produto do cansaço inteletual que
estas "crises" me provocam - mesmo numa de deixar correr e observar.
Não me sinto forte, neste momento, para tomar decisões, ainda, para o tal
enfrentar. Apesar de saber que tenho de as tomar, porque não o fazer implica
continuar a varrer coisas para debaixo do tapete. Mas quero primeiro,
ainda, maturar mais aquilo que estou a sentir agora, neste puro (e duro)
processo de trabalhar em mim mesma.
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