Acredito
que, nesta jornada de desenvolvimento pessoal aka Vida, muitas
vezes olhamos "para trás" e nos lembramos da pessoa que
outrora fomos e como transformámos alguma faceta específica nossa.
Muitas
vezes, essas realizações surgem face a situações específicas, que podiam passar
despercebidas, mas que quando começamos a colocar consciência nelas, começamos
a aperceber-nos delas, e percebemos que o que seria apenas um "eu era e já
não sou" é afinal um "wow, como eu amadureci neste aspecto, como eu
evoluí, como eu já não olho para as coisas da mesma forma". Para mim, isso
é mesmo wow!
Tenho
uma lista infindável de "issues" que me lembro de ter tido, e que
deixei (felizmente) registado nos muitos e variados blogues que já mantive, em
que hoje olho e penso que aquelas coisas já não são minimamente um
problema para mim, porque trabalhei nelas, e se hoje sei que a
isto se apelida de evolução pessoal, na altura era simplesmente resolver as
coisas que me incomodavam, porque tenho uma crença positiva muito forte
enraízada em mim, que é: a vida é tão curta e não quero ter issues que
me incomodem, se eles estão lá é porque algo não faz sentido, então vou
procurar saber o que é, saber porquê, como se manifesta e que consequências
isso tem para a minha vida, então, tenho sempre esta perspetiva, esta
motivação, para "resolver" tudo o que não esteja alinhado comigo, com
a minha essência e, em última análise porque é o que sempre queremos, viver uma
vida mais feliz comigo mesma.
Então,
no outro dia um dos meus melhores amigos pedia-me desculpa porque ainda não
tinha vindo ler o meu blog desde que voltei a escrever. E eu
disse que não fazia mal, não tinha essa expetativa, não iria fazer essa
cobrança, e que éramos amigos na mesma. E ao escrevê-lo foi incrível como não
o fiz só porque parecia bem... Fi-lo porque realmente o sinto. O
propósito de eu escrever aqui, é porque me faz bem. Claro que, se é público, é
porque gosto de o partilhar, porque gosto que me leiam, claramente, não vou ser
hipócrita e dizer que me é indiferente, senão ficava-me só pelo meu journaling privado.
Mas se, antes, ver menos de 100 visualizações nos meus posts já
me deitava abaixo e me fazia sentir que eu tinha algo de errado, porque a minha
noção de auto-valor estava muito aí, hoje em dia já não faz. E não, os meus
amigos não têm de me ler porque são meus amigos. Não têm de ler por obrigação,
nem eu quero isso. Quero que leiam se quiserem ler e quando o quiserem
fazer. E isto é tão, mas tão claro para mim hoje, mas nem sempre foi.
E
lembrei-me imediatamente de uma altura em que eu era tão imatura, que
cobrava isso dos meus amigos. Já leste o meu último post? És meu
amigo, tens de ler! Já foste ao meu blog hoje? Já ouviste a música que eu te
enviei?
E
fazia birras autênticas quando percebia que tinha as tais 100 views por post,
mas nenhuma delas era dos meus amigos mais próximos. Eu escrevia para
os outros, e agora escrevo para mim, mas escolho partilhar algumas coisas. E
da mesma forma que escrevia para os outros, escondia muitas coisas, que
hoje em dia já não escondo, coisas que fiz porque tinha vergonha do julgamento,
e que hoje já não tenho.
A
realização de que hoje eu já não sinto necessidade disso, é muito boa e,
confesso, faz sentir o meu ego inflamado. Porque me faz sentir bem, eu ter
feito essa evolução. Faz-me sentir bem eu já não sentir que alguém em
específico tem de me ler. Faz-me sentir bem que já não faço essas cobranças.
Envio o link, sim, gosto de receber feedback, sim, mas
o meu foco agora está no gosto, e não no tenho de.
E o
mais incrível foi que, ao deixar de fazer essas cobranças, deixei também de me
sentir cobrada, porque
também me sentia. Sempre fui meio desligada - não sou aquela amiga que está
sempre a falar por tudo e por nada ou que tenho obrigatoriamente de marcar
coisas, fico semanas e meses sem ligar - e sempre que alguém me cobrava isso
"nunca dizes nada, sou sempre eu que combino", eu levava isso como
ataque, e tudo isso mudou ra-di-cal-men-te, quando eu me mudei a mim primeiro.
A
minha mudança de perspetiva nas relações mudou as minhas relações. Fossem as amorosas, fossem as de amizade e
agora, mais recentemente, com os meus pais (que são as relações mais sensíveis
que tenho e ainda muito tremidas por muita coisa que estou a resolver).
O
que me leva ao tema do apego. O que eu sentia era apego. E expectativa. Se
era meu amigo, tinha de se comportar de terminada forma perante mim. Tinha
de me ouvir interminavelmente e tinha de ler os meus blogs e
tinha de e tinha de... E hoje percebo de forma tão clara que não. As
amizades são essenciais na nossa vida, se deixarmos as pessoas serem o que são.
Nas
relações amorosas, a mesma coisa. Eu
lembro-me de ser uma pessoa que sentia ciúmes. Tinha a ideia
de possessão. A pessoa era minha, só me podia dar atenção a mim, só
podia estar comigo, não podia sair com os amigos. Eu era terrível. E
hoje vejo tão claramente como isso era tão tóxico da minha parte, porque eu
estava familiarizada com a toxicidade, era o que eu conhecia como sendo
amor.
E
estou mesmo muito contente por perceber que hoje sou completamente diferente
neste âmbito. Eu percebi, e não só a um nível racional, mas sim a um nível
emocional, que ninguém é meu, que ninguém me deve nada e não,
ninguém tem de ler o meu blog só porque é meu amigo ou
namorado. E não, amor não é tóxico, como assim o aprendi ao crescer.
Hoje
em dia já não sinto ciúmes. E não digo isto só por dizer. Não sinto MESMO. Não
me faz confusão nenhuma que o outro esteja com outras pessoas, como outrora
fazia. Porque isso vinha de um lugar de não aceitação interna, de não
estar bem comigo mesma, de medo. E hoje, sinto que realmente passei
muitas e muitas etapas ao ponto que não sinto nada daquela toxicidade interna
que sentia no que toca às relações amorosas e de amizade.
As
pessoas são livres, e escolhem estar connosco. As pessoas são
livres e escolhem ser nossos amigos. Leiam ou não o que escrevemos, gostem ou não,
concordem ou não com o que pensamos ou dizemos ou fazemos. Se ficam, é
porque gostam de nós acima de todas essas coisas e isso é, mesmo, o mais
valioso.
Não
há nada mais bonito que ter relações sem apego, sem expectativas, sem ciúmes,
sem cobranças. Hoje sei que se
esse meu amigo ler o meu blog é porque o quer verdadeiramente,
sei que ele vai ler com atenção e não por obrigação, e mesmo que nunca leia, a
sério, amigos na mesma. Não vai ler porque eu cobrei, porque eu obriguei ou
porque eu deixava, nas entrelinhas, que se não o fizesse, não era meu
amigo/namorado/whatever.
Acho
muito importante, nesta caminhada, celebrarmos as nossas vitórias. E
esta é definitivamente uma que conquistei ao longo dos anos, porque lembro-me
de uma Cláudia de há 10 anos atrás completamente diferente, completamente
dependente do que achavam de mim, completamente necessitada de atenção por tudo
e por todos e com a necessidade que todos vissem e sentissem a intensidade como
eu e que pensassem nos mesmos assuntos que eu.
Hoje
em dia, não espero nada disso de ninguém. E continuo a enviar blog
posts, e músicas, e podcasts às minhas pessoas próximas. E
às vezes elas lêem/ouvem e dão feedback, outras vezes não, e está
tudo bem, porque eu já não espero, eu já não exigo isso, nem perante elas, nem
dentro de mim. É realmente uma forma de libertação e a big stepping
stone.
Portanto,
obrigada a mim! Sou
uma pessoa melhor para os outros e acima de tudo para mim mesma.
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