Ontem estava à janela, à noite, e veio-me este
pensamento "estou num outro nível de entendimento da minha
existência". Chamei-lhe de nível 33 porque é a minha idade e,
definitivamente, apesar de já ter memória de pensar nestas questões
existenciais desde há pelo menos 15 anos atrás, portanto desde a minha
adolescência, este ano está a bater muitos records a nível de intensidade
de experiências (internas e externas), de insights e breakthroughs.
Afinal, lá bem no íntimo, a questão subjacente
a tudo isto é mesmo dar algum sentido, fazer algum senso da absurdidade da
vida. Ter a noção do fim de tudo, do meu próprio fim, ter a noção tão
clara de que é tudo tão impermanente, efémero, transitório, torna tudo muito
absurdo.
Torna absurda a própria questão de tentar fazer algum
senso de tudo.
Tenho andado a ouvir e a ler algumas coisas que
apontam muito na direção do "sermos consciência". E realmente, é só
mesmo isso que somos. O que nós somos é (só) a nossa própria existência.
Não somos o que nos acontece, nem as nossas emoções, relações, acontecimentos
de vida, pensamentos ou crenças. Mas identificamo-nos com tudo isso, e jogamos
a este jogo humano de vivermos situações e de construírmos narrativas
acerca da vida, por uma questão de sobrevivência, porque precisamos de tudo
isso para satisfazer as necessidades de animais sociais que somos. O único
objetivo real de existirmos é sobrevivermos para perpetuar a espécie. Ninguém
sabe porquê, porque existimos? Porque procriamos, os que o escolhem fazer? A
estas questões, não há uma única resposta correta. É por isto que surge a
religião, a filosofia, o desenvolvimento pessoal e espiritual, e basicamente
toda a necessidade de conhecimento humano.
Invejo muito quem não tem estas questões. Quem diz
simplesmente que a nossa busca incessante por significado é tão absurda
como a vida em si, porque realmente não interessa para nada, todos teremos
o mesmo fim, e todos estamos muito à mercê de qualquer coisa a qualquer momento
que termine a nossa existência, embora nos iludamos quanto à nossa própria
fragilidade enquanto pessoa, espécie, planeta.
Eu não consigo não ter estas
questões, e não tenho nenhuma resposta para isto e cada vez mais me apercebo
que a minha posição existencial quanto a isto é a de que, realmente,
embora seja absurdo, é giro. É giro pensar sobre isto, questionar
sobre, falar sobre, ouvir outras perspetivas sobre. Cada vez mais me apercebo
de que realmente quem eu realmente sou não é nada daquilo que me iludo em ser,
mas sim, um estado puro e elevado de existência simples, que é o que
todos somos, existência em simplicidade. Sofremos porque nos
identificamos com e nos apegamos demais a tudo o que vai para além da simples
existência. Complicamos a vida, entramos nos jogos da mente, enrolamos-nos nos
papéis sociais. Não aceitamos certas coisas na vida pelo que elas são e
tentamos constantemente mudá-las, lutamos contra elas, e é isso que traz o
sofrimento maior. Não somos nada dessas coisas, mas é giro fingir que somos
muito mais para além disso. Somos uma espécie extremamente arrogante.
Noto isso mim, cada vez mais. Sofro porque queria que
algumas situações, relações ou pessoas fossem diferentes, resisto à ideia de
simplesmente aceitar que são o que são e depois deixo-me levar pelas emoções
(negativas) que elas trazem, o que se transforma em pensamentos e em crenças, o
que por sua vez vira ruminação mental e ansiedade, medo, culpa, vergonha,
orgulho, construções mentais diversas, enfim, um grande embrulho. Tornar-me
consciente disso foi um passo importante que dei este ano, foi tornar-me bastante ciente destes
fenómenos, sendo que um dos meus desafios atuais é incorporar esta ideia de que
realmente não faz sentido por vezes deixar-me levar pelas coisas que são o que
são e que eu queria que fossem diferentes e ir mais com o flow da
vida tal qual como ela se me apresentar.
Percebo isto a um nível conceptual e mental, ainda não
o consigo enraízar, mas sinto que é nesse sentido que devo ir nesta fase. Eu
tenho esta perceção, esta sabedoria interna, e o meu treino é aceder a ela para
me relembrar do lugar absurdo, pouco significante e ao mesmo tempo cheio de
significado (paradoxal, portanto) que ocupo.
Gosto que a minha breve passagem por este mundo seja
passada não só a questionar isto, just for the sake of it, sem
algum objetivo em concreto, mas sim apenas pelo processo em si, mas também
porque acho giro viver, só viver em si. Fazer o que me faz sentir bem,
o que me dá prazer, o que me eleva, alimentar a minha alma com o que ela me vai
pedindo.
É absurdo, é tudo absurdo, no entanto, acho também
tudo isto algo deslumbrante e magnífico.
Obs.: a imagem é uma "história" escrita por
mim e outra pessoa, num jogo em que cada um escrevia uma palavra. Ficou uma
história tão absurda quanto a vida em si, pelo que me fez total sentido
utilizá-la para ilustrar isto. No fundo, é assim a vida. Vamos escrevendo as
palavras da nossa vida, uma atrás da outra, à medida que nos vai fazendo
sentido, mas no final, no panorama geral, não faz sentido nenhum!
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