domingo, 4 de agosto de 2024

11072023 - Nível 33 de Entendimento da Existência / Absurdidade

 

Ontem estava à janela, à noite, e veio-me este pensamento "estou num outro nível de entendimento da minha existência". Chamei-lhe de nível 33 porque é a minha idade e, definitivamente, apesar de já ter memória de pensar nestas questões existenciais desde há pelo menos 15 anos atrás, portanto desde a minha adolescência, este ano está a bater muitos records a nível de intensidade de experiências (internas e externas), de insights breakthroughs.

 

Afinal, lá bem no íntimo, a questão subjacente a tudo isto é mesmo dar algum sentido, fazer algum senso da absurdidade da vida. Ter a noção do fim de tudo, do meu próprio fim, ter a noção tão clara de que é tudo tão impermanente, efémero, transitório, torna tudo muito absurdo.

 

Torna absurda a própria questão de tentar fazer algum senso de tudo.

 

Tenho andado a ouvir e a ler algumas coisas que apontam muito na direção do "sermos consciência". E realmente, é só mesmo isso que somos. O que nós somos é (só) a nossa própria existência. Não somos o que nos acontece, nem as nossas emoções, relações, acontecimentos de vida, pensamentos ou crenças. Mas identificamo-nos com tudo isso, e jogamos a este jogo humano de vivermos situações e de construírmos narrativas acerca da vida, por uma questão de sobrevivência, porque precisamos de tudo isso para satisfazer as necessidades de animais sociais que somos. O único objetivo real de existirmos é sobrevivermos para perpetuar a espécie. Ninguém sabe porquê, porque existimos? Porque procriamos, os que o escolhem fazer? A estas questões, não há uma única resposta correta. É por isto que surge a religião, a filosofia, o desenvolvimento pessoal e espiritual, e basicamente toda a necessidade de conhecimento humano.

 

Invejo muito quem não tem estas questões. Quem diz simplesmente que a nossa busca incessante por significado é tão absurda como a vida em si, porque realmente não interessa para nada, todos teremos o mesmo fim, e todos estamos muito à mercê de qualquer coisa a qualquer momento que termine a nossa existência, embora nos iludamos quanto à nossa própria fragilidade enquanto pessoa, espécie, planeta.

 

Eu não consigo não ter estas questões, e não tenho nenhuma resposta para isto e cada vez mais me apercebo que a minha posição existencial quanto a isto é a de que, realmente, embora seja absurdo, é giro. É giro pensar sobre isto, questionar sobre, falar sobre, ouvir outras perspetivas sobre. Cada vez mais me apercebo de que realmente quem eu realmente sou não é nada daquilo que me iludo em ser, mas sim, um estado puro e elevado de existência simples, que é o que todos somos, existência em simplicidade.  Sofremos porque nos identificamos com e nos apegamos demais a tudo o que vai para além da simples existência. Complicamos a vida, entramos nos jogos da mente, enrolamos-nos nos papéis sociais. Não aceitamos certas coisas na vida pelo que elas são e tentamos constantemente mudá-las, lutamos contra elas, e é isso que traz o sofrimento maior. Não somos nada dessas coisas, mas é giro fingir que somos muito mais para além disso. Somos uma espécie extremamente arrogante.

 

Noto isso mim, cada vez mais. Sofro porque queria que algumas situações, relações ou pessoas fossem diferentes, resisto à ideia de simplesmente aceitar que são o que são e depois deixo-me levar pelas emoções (negativas) que elas trazem, o que se transforma em pensamentos e em crenças, o que por sua vez vira ruminação mental e ansiedade, medo, culpa, vergonha, orgulho, construções mentais diversas, enfim, um grande embrulho. Tornar-me consciente disso foi um passo importante que dei este ano, foi tornar-me bastante ciente destes fenómenos, sendo que um dos meus desafios atuais é incorporar esta ideia de que realmente não faz sentido por vezes deixar-me levar pelas coisas que são o que são e que eu queria que fossem diferentes e ir mais com o flow da vida tal qual como ela se me apresentar. 

 

Percebo isto a um nível conceptual e mental, ainda não o consigo enraízar, mas sinto que é nesse sentido que devo ir nesta fase. Eu tenho esta perceção, esta sabedoria interna, e o meu treino é aceder a ela para me relembrar do lugar absurdo, pouco significante e ao mesmo tempo cheio de significado (paradoxal, portanto) que ocupo.

 

Gosto que a minha breve passagem por este mundo seja passada não só a questionar isto, just for the sake of it, sem algum objetivo em concreto, mas sim apenas pelo processo em si, mas também porque acho giro viver, só viver em si. Fazer o que me faz sentir bem, o que me dá prazer, o que me eleva, alimentar a minha alma com o que ela me vai pedindo.

 

 

 

É absurdo, é tudo absurdo, no entanto, acho também tudo isto algo deslumbrante e magnífico.

 

Obs.: a imagem é uma "história" escrita por mim e outra pessoa, num jogo em que cada um escrevia uma palavra. Ficou uma história tão absurda quanto a vida em si, pelo que me fez total sentido utilizá-la para ilustrar isto. No fundo, é assim a vida. Vamos escrevendo as palavras da nossa vida, uma atrás da outra, à medida que nos vai fazendo sentido, mas no final, no panorama geral, não faz sentido nenhum!

 

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