É incrível como os filhos refletem aquilo
que existe dentro de nós de uma forma tão perfeita. Vejo tanto na Lia, da minha
intensidade, emocional e simplesmente em viver, em existir. Dizem-me que faz
birras mais intensas e é mais "teimosa" do que a média para a idade.
Não sei, pois não tenho termo de comparação, e também não gosto que essa
comparação seja feita, sequer. Mas percebo quando e por que o dizem, porque
também o vejo. Não me sinto irritada com essa "teimosia" e
"intensidade nas birras". Não sinto vontade de gritar nem de a
repreender ou de alguma forma diminuir essa intensidade e expansividade dela. E
não o sinto, porque faz parte da personalidade dela tanto quanto da minha, e
aquela voz interna me diz que o certo é mesmo isso, aceitar. Aceitar e acolher
é o que sinto como mais instintivo, ao invés de corrigir a expressão emocional.
Nem sei explicar a calma que consigo manter, sem esforço, em momentos de caos e
meltdowns emocionais dela. E quero muito, porque sei o quão importante isso é
para um desenvolvimento equilibrado a todos os níveis, que ela sinta que tem um
"safe space" para ser quem ela é, para sentir o que ela sente, para
ela se expressar. Uma base, um porto seguro.Também acredito que cada vez mais
tenho essa questão da não-aceitação resolvida em mim e isso ajuda muito.
O trabalho de me aceitar como sou sem me
repreender por sentir as coisas de forma intensa, e sem acreditar quando me
digam que eu tenho algum problema por ser "exagerada" ou
"excessiva". Ser mãe de uma menina que vive as emoções desta forma
tão genuína e forte, é um orgulho para mim. E um espelho para o qual eu olho e
aceito cada vez de forma mais natural.
O meu papel é ajudá-la e ensinar-lhe a
regular tudo isto que eu sei que ela sente dentro dela, a uma escala mais
pequena e tendo em conta a idade, para que essa intensidade seja funcional na
vida dela e contribua para o bem estar dela. Não para suprimir, contrariar,
esconder, ou lutar conta essa parte da personalidade dela. E o mais engraçado,
é que é precisamente o que também estou a fazer comigo própria. Esta jornada de
uma maternidade em que estou a, também, ser mãe de mim mesma, livre de culpas e
vergonhas e cada vez mais num caminho de fluidez e de aceitação, tem qualquer
coisa de mágico
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