domingo, 4 de agosto de 2024

A ideia de que somos uma única pessoa é a mais pura das ilusões

 

A ideia de que somos uma única pessoa é a mais pura das ilusões.

 

Na realidade, cada pessoa tem todo o universo dentro de si, e todas as possibilidades, dentro das limitações humanas de espaço e tempo para as manifestar.

 

No fundo, todos somos uma combinação de vários arquétipos milenares que se conjugam de uma forma única e própria a cada pessoa, mas todos temos de tudo, todos temos todas essas mesmas partes.

 

É importante haver uma integração de todas estas nossas partes, pois todas elas, mesmo a mais feias, mesmo as mais sombrias, fazem parte de nós. Podemos escondê-las dos outros - we do it all the time, actually - mas escondê-las e renegá-las de nós mesmos é um erro, porque fomenta o auto-ódio. Não aceitarmos todas as nossas partes como elas são pode ser completamente destrutivo. I've been there. I am still there in some stuff.

 

Todos temos várias identidades e personas. É uma completa mentira aquele que diz "eu sou assim, sempre fui assim, serei sempre assim, em todas as situaões". E mesmo aquelas que gostamos menos, não devemos negá-las. Se somos pessoa X no ambiente Y, se temos determinado comportamento com uma pessoa e outro com outra, não devemos negar aquele que não gostamos, porque ele também faz parte de nós.

 

Muitas vezes tenho o pensamento de estar a ser falsa ou a fingir em determinadas situações, sobretudo em grupos e contextos e "small talk", fofocas, reclamações... Alinho nas conversas por pertença social, muitas vezes penso para mim "isto não tem nada a ver comigo e eu detesto este tipo de conversas, porque me estou a incluir nelas?". Mas depois chamo-me à realidade: sim, essa persona superficial, que gosta de cusquices e falar de coisas parvas também faz parte de mim. Porquê negá-la? Nem todas as conversas têm de ser sobre a vida, a alma ou o universo! Às vezes, também falamos mal dos outros. Todos o fazemos, não nos iludamos quanto a isso. Temos dentro de nós tanto a Madre Teresa de Calcutá, quanto o pior assassino do mundo. 

 

Sim, temos várias identidades internas. E muitas vezes, o que me apercebo agora, é que os conflitos e dicotomias internas não passam de colisões entre estas várias identidades internas, que têm crenças e desejos diferentes. Por vezes, muitooooo diferentes!

 

Mas isso só é negativo se o encarar dessa forma. Lá está: há a identidade em mim que diz que sou uma indecisa, que deveria fixar a minha identidade e ser coerente, a outra que contra-balança e diz, ainda bem que és tudo, podes ser o que quiseres; podes escolher usar isso como força.

 

Eu sou a Mãe de todos os meus "eus" internos e quero utilizar todas essas subidentidades para crescer, evoluir e prosperar.

 

 

Parte da evolução espiritual e de vida é dominar a arte de mediar essas crenças e desejos diferentes, por vezes dicotómicos, de modo a que se complementem para proporcionar vidas internas e externas frutíferas e alinhadas, com significado.

 

Self é a vida interna, tão complexa como uma teia de aranha, mutável por natureza e em constante transformação, metamorfose, morte e renascimento.

 

Cada ciclo de nascimento-morte-renascimento não é mais que o resultado da combinação destes diferentes "eus" internos. O Self muda com todas estas mudanças de combinações.

 

É por isso que, embora sinta que a Essência permanece relativamente imutável, e que existe sim esse centro dentro de nós que é TUDO, também sinto este desdobramento complexo desse tudo, que resulta das várias combinações interiores que vão sendo feitas em função das transformações internas que vamos sofrendo nas várias camadas e ramificações que compõem esse "tudo".

 

Na verdade, acho tudo isto bastante bonito e, até, poético.

 

 

 

 

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