A ideia de que somos uma única pessoa é a
mais pura das ilusões.
Na realidade, cada pessoa tem todo o
universo dentro de si, e todas as possibilidades, dentro das limitações humanas
de espaço e tempo para as manifestar.
No fundo, todos somos uma
combinação de vários arquétipos milenares que se conjugam de uma forma
única e própria a cada pessoa, mas todos temos de tudo, todos temos todas essas
mesmas partes.
É importante haver uma integração de
todas estas nossas partes, pois todas elas, mesmo a mais feias, mesmo
as mais sombrias, fazem parte de nós. Podemos escondê-las dos outros
- we do it all the time, actually - mas escondê-las e
renegá-las de nós mesmos é um erro, porque fomenta o auto-ódio. Não aceitarmos
todas as nossas partes como elas são pode ser completamente destrutivo. I've been there. I am still
there in some stuff.
Todos temos várias identidades e personas. É uma completa mentira aquele que diz "eu
sou assim, sempre fui assim, serei sempre assim, em todas as situaões". E
mesmo aquelas que gostamos menos, não devemos negá-las. Se somos pessoa X no
ambiente Y, se temos determinado comportamento com uma pessoa e outro com
outra, não devemos negar aquele que não gostamos, porque ele também faz parte
de nós.
Muitas vezes tenho o pensamento de estar a
ser falsa ou a fingir em determinadas situações, sobretudo em grupos e
contextos e "small talk", fofocas, reclamações... Alinho nas
conversas por pertença social, muitas vezes penso para mim "isto não tem
nada a ver comigo e eu detesto este tipo de conversas, porque me estou a
incluir nelas?". Mas depois chamo-me à realidade: sim, essa persona superficial,
que gosta de cusquices e falar de coisas parvas também faz parte de mim. Porquê
negá-la? Nem todas as conversas têm de ser sobre a vida, a alma ou o
universo! Às vezes, também falamos mal dos outros. Todos o fazemos, não nos
iludamos quanto a isso. Temos dentro de nós tanto a Madre Teresa de Calcutá,
quanto o pior assassino do mundo.
Sim, temos várias identidades internas.
E muitas vezes, o que me apercebo agora, é que os conflitos e
dicotomias internas não passam de colisões entre estas várias identidades
internas, que têm crenças e desejos diferentes. Por vezes, muitooooo
diferentes!
Mas isso só é negativo se o encarar dessa
forma. Lá está: há a identidade em mim que diz que sou uma indecisa, que
deveria fixar a minha identidade e ser coerente, a outra que contra-balança e
diz, ainda bem que és tudo, podes ser o que quiseres; podes escolher
usar isso como força.
Eu sou a Mãe de todos os meus
"eus" internos e quero utilizar todas essas subidentidades para
crescer, evoluir e prosperar.
Parte da evolução espiritual e de vida
é dominar a arte de mediar essas crenças e desejos diferentes, por
vezes dicotómicos, de modo a que se complementem para proporcionar
vidas internas e externas frutíferas e alinhadas, com significado.
O Self é a vida interna,
tão complexa como uma teia de aranha, mutável por natureza e em constante
transformação, metamorfose, morte e renascimento.
Cada ciclo de
nascimento-morte-renascimento não é mais que o resultado da combinação
destes diferentes "eus" internos. O Self muda
com todas estas mudanças de combinações.
É por isso que, embora sinta que a
Essência permanece relativamente imutável, e que existe sim esse centro dentro
de nós que é TUDO, também sinto este desdobramento complexo desse tudo,
que resulta das várias combinações interiores que vão sendo feitas em função
das transformações internas que vamos sofrendo nas várias camadas e
ramificações que compõem esse "tudo".
Na verdade, acho tudo isto bastante bonito
e, até, poético.
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