Hoje é o Dia da Criança e achei pertinente partilhar,
precisamente hoje, alguns pensamentos / realizações minhas sobre este tema.
Muito se fala na importância da criança
interior nos processos de cura e eu não podia estar mais de acordo,
pelos mais variados motivos...
MAS, muitas vezes fica esquecido o adolescente
interior.
A fase da adolescência é determinante na
formação da nossa personalidade e onde por vezes surgem muitas
inquietações e questões que nos acompanham pela vida adulta.
É racionalmente fácil olhar para trás e pensar
"eu com 14 / 15 / 16 / 17 anos era tão ridícula por isto, isto, isto e
aquilo, ainda bem que já ultrapassei esta fase".
Mas, ultrapassámos mesmo? E ultrapassámos mesmo tudo?
(e, tal como na infância, não tive propriamente um
acompanhamento que me permitisse integrar todas essas coisas intensas que
vivemos nessa fase de vida, por isso, ficou tudo um bocado a marinar, aliado à
minha cena de eu própria tentar resolver as minhas questões pela via do
autoconhecimento e "self-therapy" (que não sabia que o era, na
altura)).
Recentemente, tornei-me bastante consciente de
um "fenómeno", ou padrão que está extremamente enraízado em mim e
que, até agora, eu simplesmente fazia de forma natural, e só agora começo a ter
consciência de quando o estou a fazer!
Eu comparo-me às outras pessoas imensas vezes!!!
De imensas formas e em diferentes contextos, desde no
trabalho, a grupos de amigos, a redes sociais (e aqui potencia imenso o
sentimento de inferioridade, porque toda a gente tem uma vida muito melhor que
a nossa na internet).
No outro dia, participei num "talking
group", foi super fixe, um grupo de mais ou menos 10 pessoas, na praia, a
falar sobre sexo. O tema era esse, e a ideia era podermos falar sem julgamentos
e sem tabus, sobre um tema íntimo, com pessoas que não conhecíamos de lado
nenhum. Amei o conceito e a sessão!
Mas, imediatamente, logo que cheguei,
começaram na minha cabeça, as tais comparações e, pior, o colocar em
caixinhas: o meu pensamento foi que era um grupo de pessoas hipsters,
jovens, sem filhos, que trabalham remotamente, viajam o tempo todo, e como
eu gostava de ter a vida deles. E nestes momentos, é mesmo muito mau,
é destrutivo, porque é que eu quis, naqueles segundos antes de ficar consciente
disto, ser igual a eles? Ser diferente de mim?
E depois, isto das comparações, é que às vezes
sinto-me "superior". A comparação não é má só quando nos faz
sentir inferiores (porque isso afeta a auto-estima), mas também é má
quando nos faz sentir superiores, porque inflama o ego, faz-nos sentir melhores
que alguém, e faz-nos ser arrogantes. E sim, em algumas situações eu
também me sinto superior!
Se, por um lado, estas comparações é algo
"normal" e que "toda a gente faz", e sei que tenho de aceitar esse meu padrão como uma parte integrante de mim
mesma, isso não quer dizer que não o possa melhorar! Sim,
estou a aceitar que isso faz parte de mim, estou a começar a perceber de onde
veio, porque vem de algo que ficou mal resolvido no meu passado, então, tendo
esse conhecimento, posso melhorar isso. Posso escolher, realmente,
melhorar isso.
De onde vem isto?
Aqui entra a questão da adolescente interior.
Eu apercebi-me deste padrão e tenho refletido bastante nele. Um dia, do nada,
eu apercebo-me que este padrão vem de uma emoção beeeeem antiga: a
Cláudia de 15 anos! Eu tinha esta obsessão por ser popular (que era
tudo menos isso). Queria ser cool e tinha uma espécie de complexo de messias, em que queria
ser a próxima pessoa-a-fazer-algo-único-e-inigualável-no-mundo. Sim,
eu lembro-me que isto era uma preocupação grande minha, era um issue,
que ultrapassei, hoje já não tenho. Mas aquela insegurança de não ser
popular como queria, ficou, e hoje manifesta-se de forma diferente. Através
dessas comparações. Agora que percebo o quão infantil isto é, torna-se
mais fácil enfrentar de caras este padrão que quero, pelo menos, atenuar.
Definitivamente é um dos temas que quero trabalhar
agora, a nível de desenvolvimento pessoal. Parar de me comparar, seja
por me sentir superior, seja por me sentir inferior.
Eu realmente não quero comparar-me aos outros. Isto acontece-me. E eu ainda me julgo por isso, quando sei que o
caminho certo é fazer este trabalho interior: identificar quando isto acontece,
sem julgamento, para perceber depois o porquê e concluir que as comparações não
têm qualquer razão de ser.
Agora que me apercebi disso, lembro-me de imensas
situações na minha vida em que me comparei aos outros e isso me afetou a sério,
em termos de saúde mental, quando ainda não estava desperta para isto. Por
exemplo, assim a mais recente que me lembro, foi quando a Lia nasceu, e na fase
da amamentação, eu passava horas nas redes sociais e em grupos de mães a
comparar-me e a sentir-me inferior. Todas as mães eram melhores que eu, porque
conseguiam amamentar sem problemas, ou porque aceitavam sem culpas se não o
fizessem por escolha ou não, e eu estava a ter montes de dificuldades nisso,
queria desistir e sentia culpa. Por outro lado, também muitas mães metiam os
bebés em frente ao Baby TV e isso era normalizado, e eu sentia-me melhor que
elas, porque sabia que não o devia fazer, e não o fazia. Esta oscilação entre
sentir-me "melhor ou pior que os outros"... Sempre esteve presente,
só que eu não estava minimamente alerta para isso. E isto acontece muito,
particularmente, entre mulheres.
O importante é que eu agora sei. E, agora que sei, eu
posso escolher deixar de o fazer. É
muuuuuito difícil, é algo que está gravado no meu inconsciente, é algo que
surge naturalmente, mas acho que ter dado este primeiro passo de me aperceber
deste padrão assim que ele acontece, assim que as vozes na minha mente surgem,
foi o primeiro passo para a caminhada de o deixar ir, porque me é prejudicial,
tanto por me fazer sentir arrogante e/ou orgulhosa, quanto por me fazer sentir
inferior a alguém. Eu não sou nem superior nem inferior a ninguém e é o
enraizar disto dentro de mim, parte do meu trabalho interior que tenho a fazer.
Sem comentários:
Enviar um comentário