domingo, 4 de agosto de 2024

Não é só a Criança Interior que importa para os Processos de Cura

 

Hoje é o Dia da Criança e achei pertinente partilhar, precisamente hoje, alguns pensamentos / realizações minhas sobre este tema.

 

Muito se fala na importância da criança interior nos processos de cura e eu não podia estar mais de acordo, pelos mais variados motivos...

 

MAS, muitas vezes fica esquecido o adolescente interior.

 

 

 

fase da adolescência é determinante na formação da nossa personalidade e onde por vezes surgem muitas inquietações e questões que nos acompanham pela vida adulta.

 

É racionalmente fácil olhar para trás e pensar "eu com 14 / 15 / 16 / 17 anos era tão ridícula por isto, isto, isto e aquilo, ainda bem que já ultrapassei esta fase".

 

Mas, ultrapassámos mesmo? E ultrapassámos mesmo tudo?

 

(e, tal como na infância, não tive propriamente um acompanhamento que me permitisse integrar todas essas coisas intensas que vivemos nessa fase de vida, por isso, ficou tudo um bocado a marinar, aliado à minha cena de eu própria tentar resolver as minhas questões pela via do autoconhecimento e "self-therapy" (que não sabia que o era, na altura)).

 

Recentemente, tornei-me bastante consciente de um "fenómeno", ou padrão que está extremamente enraízado em mim e que, até agora, eu simplesmente fazia de forma natural, e só agora começo a ter consciência de quando o estou a fazer!

 

Eu comparo-me às outras pessoas imensas vezes!!!

 

 

 

De imensas formas e em diferentes contextos, desde no trabalho, a grupos de amigos, a redes sociais (e aqui potencia imenso o sentimento de inferioridade, porque toda a gente tem uma vida muito melhor que a nossa na internet).

 

No outro dia, participei num "talking group", foi super fixe, um grupo de mais ou menos 10 pessoas, na praia, a falar sobre sexo. O tema era esse, e a ideia era podermos falar sem julgamentos e sem tabus, sobre um tema íntimo, com pessoas que não conhecíamos de lado nenhum. Amei o conceito e a sessão!

 

Mas, imediatamente, logo que cheguei, começaram na minha cabeça, as tais comparações e, pior, o colocar em caixinhas: o meu pensamento foi que era um grupo de pessoas hipsters, jovens, sem filhos, que trabalham remotamente, viajam o tempo todo, e como eu gostava de ter a vida deles. E nestes momentos, é mesmo muito mau, é destrutivo, porque é que eu quis, naqueles segundos antes de ficar consciente disto, ser igual a eles? Ser diferente de mim?

 

E depois, isto das comparações, é que às vezes sinto-me "superior". A comparação não é má só quando nos faz sentir inferiores (porque isso afeta a auto-estima), mas também é má quando nos faz sentir superiores, porque inflama o ego, faz-nos sentir melhores que alguém, e faz-nos ser arrogantes. E sim, em algumas situações eu também me sinto superior!

 

Se, por um lado, estas comparações é algo "normal" e que "toda a gente faz", e sei que tenho de aceitar esse meu padrão como uma parte integrante de mim mesma, isso não quer dizer que não o possa melhorar! Sim, estou a aceitar que isso faz parte de mim, estou a começar a perceber de onde veio, porque vem de algo que ficou mal resolvido no meu passado, então, tendo esse conhecimento, posso melhorar isso. Posso escolher, realmente, melhorar isso.

 

De onde vem isto?

 

Aqui entra a questão da adolescente interior. Eu apercebi-me deste padrão e tenho refletido bastante nele. Um dia, do nada, eu apercebo-me que este padrão vem de uma emoção beeeeem antiga: a Cláudia de 15 anos! Eu tinha esta obsessão por ser popular (que era tudo menos isso). Queria ser cool e tinha uma espécie de complexo de messias, em que queria ser a próxima pessoa-a-fazer-algo-único-e-inigualável-no-mundo. Sim, eu lembro-me que isto era uma preocupação grande minha, era um issue, que ultrapassei, hoje já não tenho. Mas aquela insegurança de não ser popular como queria, ficou, e hoje manifesta-se de forma diferente. Através dessas comparações. Agora que percebo o quão infantil isto é, torna-se mais fácil enfrentar de caras este padrão que quero, pelo menos, atenuar.

 

Definitivamente é um dos temas que quero trabalhar agora, a nível de desenvolvimento pessoal. Parar de me comparar, seja por me sentir superior, seja por me sentir inferior.

 

Eu realmente não quero comparar-me aos outros. Isto acontece-me. E eu ainda me julgo por isso, quando sei que o caminho certo é fazer este trabalho interior: identificar quando isto acontece, sem julgamento, para perceber depois o porquê e concluir que as comparações não têm qualquer razão de ser. 

 

Agora que me apercebi disso, lembro-me de imensas situações na minha vida em que me comparei aos outros e isso me afetou a sério, em termos de saúde mental, quando ainda não estava desperta para isto. Por exemplo, assim a mais recente que me lembro, foi quando a Lia nasceu, e na fase da amamentação, eu passava horas nas redes sociais e em grupos de mães a comparar-me e a sentir-me inferior. Todas as mães eram melhores que eu, porque conseguiam amamentar sem problemas, ou porque aceitavam sem culpas se não o fizessem por escolha ou não, e eu estava a ter montes de dificuldades nisso, queria desistir e sentia culpa. Por outro lado, também muitas mães metiam os bebés em frente ao Baby TV e isso era normalizado, e eu sentia-me melhor que elas, porque sabia que não o devia fazer, e não o fazia. Esta oscilação entre sentir-me "melhor ou pior que os outros"... Sempre esteve presente, só que eu não estava minimamente alerta para isso. E isto acontece muito, particularmente, entre mulheres.

 

O importante é que eu agora sei. E, agora que sei, eu posso escolher deixar de o fazer. É muuuuuito difícil, é algo que está gravado no meu inconsciente, é algo que surge naturalmente, mas acho que ter dado este primeiro passo de me aperceber deste padrão assim que ele acontece, assim que as vozes na minha mente surgem, foi o primeiro passo para a caminhada de o deixar ir, porque me é prejudicial, tanto por me fazer sentir arrogante e/ou orgulhosa, quanto por me fazer sentir inferior a alguém. Eu não sou nem superior nem inferior a ninguém e é o enraizar disto dentro de mim, parte do meu trabalho interior que tenho a fazer.

 

 

 

 

 

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