Eu
sou uma pessoa sortuda. Isto sempre fez parte da minha identidade.
"Nasceste
mesmo com o cu virado para a Lua"
"Sorte
à Cláudia"
"Lá
está, como sempre, tiveste sorte"
Ouvi
e oiço isto tantas vezes, que efetivamente se tornou parte da minha identidade.
Acaba
por ser algo que dou quase como garantido.
Crença positiva
Já
falei aqui tantas vezes - e o meu trabalho interior de momento tem passado
muito por isto - das crenças e self-talk negativo.
Aqueles padrões que parece que estão enraízados em nós, que se manifestam na
forma de falar connosco mesmos, e que invariavelmente se manifestam no nosso
exterior. Eu tenho muito disso. E acontecem quase sempre de forma inconsciente.
Este trabalho de tomada de consciência é mesmo trazê-los para a luz. Olhar para
esses nossos padrões, de frente, e trabalhar neles quando nos são prejudiciais.
Mas,
este caso em particular, tenho-me apercebido, que é uma forte e bem
enraízada crença positiva que tenho.
E,
tal como as crenças negativas, até agora era inconsciente. Só que agora eu
percebo que tenho esta cassete interna e este positive self-talk que
me diz assim: tu consegues; vai correr bem; vai; não vai acontecer nada de mal;
vai, faz; vai correr bem; corre-te sempre bem; não vais morrer.
E
isto é INCRÍVEL. Eu apercebi-me que tenho mesmo este algo dentro de
mim que me diz, que vai sempre correr tudo bem. É um bocadinho o oposto do
negativismo.
Eu
tenho medos e ansiedades - muitas - mas esta crença positiva acaba
sempre por ganhar. Eu acabo sempre por ir, e talvez isso também explique o
facto de eu não ser avessa ao risco, de gostar do desconhecido e da novidade,
de ir atrás de novas experiências. Mesmo que me dê medo e ansiedade, consigo
lidar e ir à mesma, porque algo mais forte, que me diz vai, que vai
correr bem, ganha, quase sempre.
O que é a sorte?
Sorte
é estar no sítio certo à hora certa. A questão de existe sorte, se existem
coincidências ou acasos, ou não, ainda é uma questão que tenho muito em
aberto. Penso muito nela, e nunca cheguei a uma conclusão. Mas se formos
pela definição mais clássica de sorte, sim, tenho-a, e muita.
Casos práticos
Sou
aquela pessoa que encontra sempre lugar de estacionamento em sítios
complicados. À porta. Por isso, vou sempre até mesmo à porta. Quando não encontro
lugar, é que fico surpreendida.
Sou
pessoa de ir ao supermercado a precisar de algo urgente e trazer o último desse
algo, que havia na prateleira.
Sou
pessoa de encontrar dinheiro no chão. Ou encontrar, de repente, alguma coisa
que estava mesmo a pensar que precisava. Ou falar em algo e, sem pedir nada, de
repente alguém dizer que me pode ajudar com isso. Só não jogo em jogos de azar
(totolotos e afins), porque acho um desperdício de dinheiro.
Sem
pedir nada, coisas boas acontecem-me, a nível material, de relações, de
influências, enfim, a tantos níveis. As pessoas certas sempre arranjaram forma
de me aparecer na vida.
Durante
a minha infância e adolescência, tive exposta a situações e relações que tinham
tudo para me tornar numa pessoa diferente - para pior - do que sou hoje.
Caramba! Tantas vezes olho para trás e penso que podia ter corrido tão
mal! E no entanto, houve sempre alguém. Alguém ou algo ou alguma coisa que
acabava por me "salvar" e puxar para o outro lado.
Insight que tive ontem - como trouxe esta crença positiva à
luz da consciência
Ontem
tive um insight incrível, no final de um círculo/talk group em
que participei (tenho participado em algumas coisas dessas e tenho adorado!)
Estava
a falar de experiências que tive e como elas me conduziram na vida - ou como a
vida me conduziu a elas - e alguém me disse que a vida me tinha feito
um convite e eu estava preparada para aceitar.
A
verdade é que essas situações em específico, podiam ter corrido mal. Podiam ter
corrido MUITO mal. Foram extremamente arriscadas. Mas correram
extraordinariamente bem. Tão bem que eu costumo dividir a minha vida
"antes-experiências" e "depois-experiências".
E
no final desse círculo, quando a facilitadora nos guiou num exercício de
respiração e pediu para ficarmos atentos ao que sentíamos e/ou ao que de mais
valioso tínhamos retirado daquela experiência, a coisa que, de imediato, me
veio à cabeça - e aquela que me fez realmente pensar nisto tudo que escrevo
aqui hoje - foi "eu tenho uma estrelinha. Esta estrelinha que me
guia sempre. É como se fosse um centro que eu sinto que tenho e que me diz para
entregar e confiar." E naqueles minutos vi com uma enorme clareza dezenas
de situações na minha vida, em que isto se verificou.
Quando
a Lia nasceu, o parto foi natural mas demorou mais porque ela tinha o cordão à
volta do pescoço. Eu tinha lido imenso e tinha-me informado imenso e sabia que
isso não era um problema mas, às tantas, a parteira começou a ficar preocupada.
E o próprio João me contou depois que houve ali um momento em que viu a
vida dele a andar para trás com a expressão da parteira. O cordão umbilical
puxava-a para dentro, por mais força que eu fizesse para fora. Eventualmente,
tiveram de se pôr em cima da minha barriga (com a minha autorização) para
impulsionar a saída. Acabou por correr tudo bem. E, naquele tempo todo, eu
sabia disso. Eu sabia, havia aquela voz dentro de mim que me dizia,
confia, que vai correr bem. Podia não ter corrido, mais uma vez, e correu.
Estes
e tantos outros exemplos em que eu realmente penso "wow. lá está, a vida a
dar-me aquele empurrão, para que tudo corra bem".
E,
atenção, eu não sou NADA religiosa. Eu até diria que sou quase
anti-religião. Eu não acredito em nenhum deus, em nenhuma religião e
tenho aversão a isso, a qualquer tipo de credo ou fanatismo. Por isso até evito
a expressão "anjo da guarda", porque é demasiado religioso. Mas não
posso negar que o sinto. Chamem-lhe o que quiserem... É uma confiança
na vida, que eu nem sem explicar.
E
eu não faço absolutamente nada dessa coisa de "manifestação", pelo
menos de forma ativa, mas agora começo a perceber-me, que o faço de forma
inconsciente, devido a ter essa crença positiva, de que as coisas hão-de acabar
por me correr de feição e às vezes até melhor do que eu esperava.
Talvez seja uma forma de manifestação, mas
sinceramente, nunca foi intencional.
A minha crença positiva traz-me sorte, ou o contrário?
A
questão que me resta é, um pouco como a história da galinha e do ovo: o que
começou primeiro? Será que eu efetivamente tenho sorte e as coisas acabam por
me correr bem, na maioria das vezes, mesmo nas coisas em que não tenho controlo
nenhum, e isso acabou por definir esta minha confiança? Ou, ao contrário? Será
que o facto de sentir este "centro que me guia e me dá confiança na
vida" faz-me manifestar isso, de algum modo, cujo mecanismo não é
intencional da minha parte?
Talvez
já esteja a ficar demasiado exotérico, mas gosto de questionar!
A sorte, a culpa e o merecimento
Tantas
vezes penso para mim mesma, o que fiz para merecer tudo isto? Muitas vezes
sinto que não mereço. Eu não fiz nada! Não sou nenhuma santa, não sou a pessoa
mais solidária nem voluntariosa do mundo, não sou aquela pessoa que "ajuda
todos". Nada mesmo! E no entanto, aqui está a vida, que até agora
tem sido tão gentil comigo. Que tem feito os ventos voarem a meu
favor. Que me tem salvado de situações em que eu deliberadamente me coloquei e
que podiam ter corrido tão mal. Isto traz-me muita culpa. Penso sempre, lá
está, que não fiz nada para o merecer.
Aconteceu hoje
E
agora voltando à questão das coincidências, será que há mesmo?
Hoje,
fui a um shopping e, ao sair do lugar de estacionamento, não
reparei que havia um pilar gigante à minha esquerda. Comecei a fazer a manobra
e, de repente, algo me disse "pára". Ia batendo nesse pilar e fiquei
tipo a um milímetro. A ciència dirá: o teu cérebro viu pelo canto do olho, e o
teu cérebro teve esse reflexo rápido e eficaz o suficiente. Eu não sei - pode
ter sido isso, sim - mas achei engraçado eu ter tido a cena de travar super
rápido sem ver o pilar. Outra vez aquela coisa que evitou que algo
acontecesse.
Não
é que nunca nada me corra mal. Isso é ilusório! Claro que as coisas me correm
mal. Mas quando correm, mesmo assim, podiam ter corrido pior. É o tal "no
meio do azar até tiveste sorte". È o que mais me acontece. Mesmo quando
corre mal, corre bem, porque podia ter corrido pior. E talvez esse seja só o
meu pensamento recorrente sobre as coisas, efetivamente tendo a pensar nisso:
"correu mal, mas podia ter corrido pior". O que me leva de novo à
interrogação, é a sorte que eu penso que tenho, ou o que eu penso que me dá a
sorte?
O
exemplo de hoje é completamente irrisório. Eu já bati em N pilares em parques
de estacionamento, e perder o carro, não saber onde ele está, então, nem sei
quantas já! xD
Mas
achei engraçado porque precisamente naquele momento eu estava a pensar em tudo
isto que estou a escrever agora.
Vou numa viagem
Amanhã
vou numa viagem, só com o João, sem a Lia, que vai pela primeira vez passar
umas férias "longas" (1 semana) com a avó, sem nós. Estou
cheia de comichões, medos e ansiedades. Só tenho pensado, e se algo
corre mal, com elas, e se o nosso avião cai, e se eu morro, e se alguém morre,
e se se e se e se....... E sinceramente, dou graças a esta minha voz
interior que, ao mesmo me tempo, e contraditoriamente me diz "vai correr
bem". Se não fosse essa voz, já tinha tido 40 ataques de pânico
só na última semana. E é nisto que digo, também, que essa voz, esse centro de
confiança na vida que até agora não me tem falhado, mais uma vez me salva, de
mim mesma.
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