domingo, 4 de agosto de 2024

Insight / Sorte / Confiança na Vida

 

Eu sou uma pessoa sortuda. Isto sempre fez parte da minha identidade.

 

"Nasceste mesmo com o cu virado para a Lua"

"Sorte à Cláudia"

"Lá está, como sempre, tiveste sorte"

Ouvi e oiço isto tantas vezes, que efetivamente se tornou parte da minha identidade.

Acaba por ser algo que dou quase como garantido.

 




Crença positiva

Já falei aqui tantas vezes - e o meu trabalho interior de momento tem passado muito por isto - das crenças e self-talk negativo. Aqueles padrões que parece que estão enraízados em nós, que se manifestam na forma de falar connosco mesmos, e que invariavelmente se manifestam no nosso exterior. Eu tenho muito disso. E acontecem quase sempre de forma inconsciente. Este trabalho de tomada de consciência é mesmo trazê-los para a luz. Olhar para esses nossos padrões, de frente, e trabalhar neles quando nos são prejudiciais.

Mas, este caso em particular, tenho-me apercebido, que é uma forte e bem enraízada crença positiva que tenho.

E, tal como as crenças negativas, até agora era inconsciente. Só que agora eu percebo que tenho esta cassete interna e este positive self-talk que me diz assim: tu consegues; vai correr bem; vai; não vai acontecer nada de mal; vai, faz; vai correr bem; corre-te sempre bem; não vais morrer.

E isto é INCRÍVEL. Eu apercebi-me que tenho mesmo este algo dentro de mim que me diz, que vai sempre correr tudo bem. É um bocadinho o oposto do negativismo.

Eu tenho medos e ansiedades - muitas - mas esta crença positiva acaba sempre por ganhar. Eu acabo sempre por ir, e talvez isso também explique o facto de eu não ser avessa ao risco, de gostar do desconhecido e da novidade, de ir atrás de novas experiências. Mesmo que me dê medo e ansiedade, consigo lidar e ir à mesma, porque algo mais forte, que me diz vai, que vai correr bem, ganha, quase sempre.

 

O que é a sorte?

Sorte é estar no sítio certo à hora certa. A questão de existe sorte, se existem coincidências ou acasos, ou não, ainda é uma questão que tenho muito em aberto. Penso muito nela, e nunca cheguei a uma conclusão. Mas se formos pela definição mais clássica de sorte, sim, tenho-a, e muita.

 

Casos práticos

Sou aquela pessoa que encontra sempre lugar de estacionamento em sítios complicados. À porta. Por isso, vou sempre até mesmo à porta. Quando não encontro lugar, é que fico surpreendida.

Sou pessoa de ir ao supermercado a precisar de algo urgente e trazer o último desse algo, que havia na prateleira.

Sou pessoa de encontrar dinheiro no chão. Ou encontrar, de repente, alguma coisa que estava mesmo a pensar que precisava. Ou falar em algo e, sem pedir nada, de repente alguém dizer que me pode ajudar com isso. Só não jogo em jogos de azar (totolotos e afins), porque acho um desperdício de dinheiro. 

Sem pedir nada, coisas boas acontecem-me, a nível material, de relações, de influências, enfim, a tantos níveis. As pessoas certas sempre arranjaram forma de me aparecer na vida.

Durante a minha infância e adolescência, tive exposta a situações e relações que tinham tudo para me tornar numa pessoa diferente - para pior - do que sou hoje. Caramba! Tantas vezes olho para trás e penso que podia ter corrido tão mal! E no entanto, houve sempre alguém. Alguém ou algo ou alguma coisa que acabava por me "salvar" e puxar para o outro lado.

 




Insight que tive ontem - como trouxe esta crença positiva à luz da consciência

Ontem tive um insight incrível, no final de um círculo/talk group em que participei (tenho participado em algumas coisas dessas e tenho adorado!)

Estava a falar de experiências que tive e como elas me conduziram na vida - ou como a vida me conduziu a elas - e alguém me disse que a vida me tinha feito um convite e eu estava preparada para aceitar.

A verdade é que essas situações em específico, podiam ter corrido mal. Podiam ter corrido MUITO mal. Foram extremamente arriscadas. Mas correram extraordinariamente bem. Tão bem que eu costumo dividir a minha vida "antes-experiências" e "depois-experiências".

E no final desse círculo, quando a facilitadora nos guiou num exercício de respiração e pediu para ficarmos atentos ao que sentíamos e/ou ao que de mais valioso tínhamos retirado daquela experiência, a coisa que, de imediato, me veio à cabeça - e aquela que me fez realmente pensar nisto tudo que escrevo aqui hoje - foi "eu tenho uma estrelinha. Esta estrelinha que me guia sempre. É como se fosse um centro que eu sinto que tenho e que me diz para entregar e confiar." E naqueles minutos vi com uma enorme clareza dezenas de situações na minha vida, em que isto se verificou.

Quando a Lia nasceu, o parto foi natural mas demorou mais porque ela tinha o cordão à volta do pescoço. Eu tinha lido imenso e tinha-me informado imenso e sabia que isso não era um problema mas, às tantas, a parteira começou a ficar preocupada. E  o próprio João me contou depois que houve ali um momento em que viu a vida dele a andar para trás com a expressão da parteira. O cordão umbilical puxava-a para dentro, por mais força que eu fizesse para fora. Eventualmente, tiveram de se pôr em cima da minha barriga (com a minha autorização) para impulsionar a saída. Acabou por correr tudo bem. E, naquele tempo todo, eu sabia disso. Eu sabia, havia aquela voz dentro de mim que me dizia, confia, que vai correr bem. Podia não ter corrido, mais uma vez, e correu.

Estes e tantos outros exemplos em que eu realmente penso "wow. lá está, a vida a dar-me aquele empurrão, para que tudo corra bem".

E, atenção, eu não sou NADA religiosa. Eu até diria que sou quase anti-religião. Eu não acredito em nenhum deus, em nenhuma religião e tenho aversão a isso, a qualquer tipo de credo ou fanatismo. Por isso até evito a expressão "anjo da guarda", porque é demasiado religioso. Mas não posso negar que o sinto. Chamem-lhe o que quiserem... É uma confiança na vida, que eu nem sem explicar.

E eu não faço absolutamente nada dessa coisa de "manifestação", pelo menos de forma ativa, mas agora começo a perceber-me, que o faço de forma inconsciente, devido a ter essa crença positiva, de que as coisas hão-de acabar por me correr de feição e às vezes até melhor do que eu esperava.

Talvez seja uma forma de manifestação, mas sinceramente, nunca foi intencional.

A minha crença positiva traz-me sorte, ou o contrário?

A questão que me resta é, um pouco como a história da galinha e do ovo: o que começou primeiro? Será que eu efetivamente tenho sorte e as coisas acabam por me correr bem, na maioria das vezes, mesmo nas coisas em que não tenho controlo nenhum, e isso acabou por definir esta minha confiança? Ou, ao contrário? Será que o facto de sentir este "centro que me guia e me dá confiança na vida" faz-me manifestar isso, de algum modo, cujo mecanismo não é intencional da minha parte?

Talvez já esteja a ficar demasiado exotérico, mas gosto de questionar!

 

A sorte, a culpa e o merecimento

Tantas vezes penso para mim mesma, o que fiz para merecer tudo isto? Muitas vezes sinto que não mereço. Eu não fiz nada! Não sou nenhuma santa, não sou a pessoa mais solidária nem voluntariosa do mundo, não sou aquela pessoa que "ajuda todos". Nada mesmo! E no entanto, aqui está a vida, que até agora tem sido tão gentil comigo. Que tem feito os ventos voarem a meu favor. Que me tem salvado de situações em que eu deliberadamente me coloquei e que podiam ter corrido tão mal. Isto traz-me muita culpa. Penso sempre, lá está, que não fiz nada para o merecer.

 

Aconteceu hoje

E agora voltando à questão das coincidências, será que há mesmo?

Hoje, fui a um shopping e, ao sair do lugar de estacionamento, não reparei que havia um pilar gigante à minha esquerda. Comecei a fazer a manobra e, de repente, algo me disse "pára". Ia batendo nesse pilar e fiquei tipo a um milímetro. A ciència dirá: o teu cérebro viu pelo canto do olho, e o teu cérebro teve esse reflexo rápido e eficaz o suficiente. Eu não sei - pode ter sido isso, sim - mas achei engraçado eu ter tido a cena de travar super rápido sem ver o pilar. Outra vez aquela coisa que evitou que algo acontecesse. 

Não é que nunca nada me corra mal. Isso é ilusório! Claro que as coisas me correm mal. Mas quando correm, mesmo assim, podiam ter corrido pior. É o tal "no meio do azar até tiveste sorte". È o que mais me acontece. Mesmo quando corre mal, corre bem, porque podia ter corrido pior. E talvez esse seja só o meu pensamento recorrente sobre as coisas, efetivamente tendo a pensar nisso: "correu mal, mas podia ter corrido pior". O que me leva de novo à interrogação, é a sorte que eu penso que tenho, ou o que eu penso que me dá a sorte?

O exemplo de hoje é completamente irrisório. Eu já bati em N pilares em parques de estacionamento, e perder o carro, não saber onde ele está, então, nem sei quantas já! xD

Mas achei engraçado porque precisamente naquele momento eu estava a pensar em tudo isto que estou a escrever agora.

 

Vou numa viagem

Amanhã vou numa viagem, só com o João, sem a Lia, que vai pela primeira vez passar umas férias "longas" (1 semana) com a avó, sem nós. Estou cheia de comichões, medos e ansiedades. Só tenho pensado, e se algo corre mal, com elas, e se o nosso avião cai, e se eu morro, e se alguém morre, e se se e se e se....... E sinceramente, dou graças a esta minha voz interior que, ao mesmo me tempo, e contraditoriamente me diz "vai correr bem". Se não fosse essa voz, já tinha tido 40 ataques de pânico só na última semana. E é nisto que digo, também, que essa voz, esse centro de confiança na vida que até agora não me tem falhado, mais uma vez me salva, de mim mesma. 

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