Como
falei no post anterior, tive uma relação muito
tóxica com as questões relacionadas ao dinheiro, durante muito tempo. Foi
outras das prisões das quais me libertei completamente. Por isso é que o nome
deste blog faz tanto sentido para mim, nesta fase da minha vida. Porque sinto
que, realmente, cheguei a um ponto da minha vida em que me apercebi de quanta
toxicidade me libertei, externa, que se internalizou e que acabou por me fazer
refém de mim mesma.
Infância
e adolescência foi essencialmente: frugalidade excessiva, sentimentos de culpa
e cobrança, seguida de uma fase de consumismo desenfreado logo que comecei a
ganhar o meu próprio dinheiro.
No início dos meus 20's, fui de Erasmus. Arrendei o meu quarto em Lisboa
e usava esse dinheiro para pagar a renda de lá. O resto das living
expenses, era a bolsa de Erasmus que suportava. Os meus pais davam-me algum
dinheiro extra, e se eu pedisse, davam mais. Mas eu não queria pedir, porque
tinha (e, confesso, ainda hoje tenho!) esse complexo. Não queria e não
queria mesmo que eles me dessem dinheiro. Sentia-me mal com isso. Mas,
por outro lado, a renda de Lisboa (que acabava por ser dinheiro da minha mãe,
indiretamente, uma vez que a casa era dela, mas pronto... Não havia volta a
dar) e a bolsa só dava mesmo para a renda e a comida. O essencial. Mas eu
queria divertir-me. Era o meu ano de Erasmus! Era a primeira vez que vivia
sozinha! Então, o que é que eu fiz? Poupava dinheiro na comida,
propositadamente, para poder ter experiências e viajar. Posso dizer que passei
fome de propósito. Só comprava e comia mesmo o absolutamente mínimo e essencial
para sobreviver. Não pagava transportes, andava a pé de de bicicleta
para todo o lado. Andava MUITO a pé. Como nunca andei na vida. Só para poupar
aqueles 2€ do bilhete. Perdi 20 Kg num ano. Não falo disto com um pingo de
arrependimento e muito menos vitimização. Foi o melhor que fiz! Foi o ano mais
INCRÍVEL da minha vida! Não me poupei a nenhuma experiência que quisesse viver!
E viajei imenso! Recordando esse ano, não me lembro da comida que não comi, ou
do tram que não apanhei, ou dos Kms que andei a pé, mas sim, das experiências
maravilhosas que tive!
Tudo isso porque não queria que os meus pais me enviassem mais
dinheiro. Eles perguntavam se eu precisava, se estava tudo bem, se eu
andava a comer bem, e claro que a resposta era sempre que sim 😆
Era o meu complexo, tinha horror a ter 21 anos e ter de pedir
dinheiro aos meus pais para me ir divertir! Ainda por cima, para fazer
coisas que eles não iriam concordar nem um bocadinho 😂😂😂
Além disso, ambos os meus pais trabalharam desde muito cedo e ganharam a sua
independência financeira super cedo, bem antes sequer de chegar aos 20's, não
porque queriam, mas porque teve de ser. Eu ignorava a diferença de
circunstâncias, de culturas, de backgrounds e todas as outras
variáveis, queria era seguir os passos deles, cegamente. Sentia-me
super diminuída por ainda depender deles com 21 anos. Quando regressei
do Erasmus, tinha horror a ainda depender deles. Era uma vergonha para mim. E
portanto o meu foco era começar a trabalhar a sério.
Mas queria, por outro lado, continuar a estudar. Eu sempre gostei de
estudar 😝 Terminando a Licenciatura, decidi prosseguir para
Mestrado, mas só se fosse eu a pagar. Não queria de forma nenhuma que o meu pai
continuasse a suportar os meus estudos. Então, arranjei um trabalho na
própria faculdade, em que, em vez de me pagarem diretamente, pagavam-me as
propinas. Awesome! Foi mesmo uma conquista para mim. Fiquei
super orgulhosa. E ia tendo trabalhos aqui e ali, para ganhar o meu próprio
dinheiro, para gastar como me aprouvesse. Mas ainda vivia em casa da minha mãe
e sentia-me mal por isso. Lá está, a culpa, acompanhada das constantes
cobranças. Não é que ela se importasse (pelo contrário, quando saí ela ficou
acabada por eu ter saído), mas que me cobrava por "ainda me
sustentar", lá isso cobrava.
Depois, entrei no mercado de trabalho e, aos 24, finalmente consegui sair
de casa. Já tinha um salário e entretanto juntei-me com o João, todos os astros
estavam alinhados. Finalmente, era financeiramente independente! Na
época, atingir a independência financeira aos 24 era super tarde, mas hoje em
dia, olhando para trás, vejo que foi uma boa idade.
No entanto, ainda não encarava a questão do dinheiro como encaro
hoje. Pouco poupava e investir era mesmo zero. Gastava tudo o
que ganhava e nem precisava gastar nem 2/3, porque não tinha uma filha, não
tinha obrigações de maior... Olhando para trás, sinto-me burra por não
ter começado a juntar dinheiro nessa altura, nessa altura que podia, nessa
altura que seria infinitamente mais fácil do que é hoje em dia.
Uns poucos anos mais tarde, quis lançar-me no empreendedorismo e criar
uma empresa. Peguei no projeto que, na altura, já tinha fazia uns bons anos,
com a minha amiga Lane, Mulher XL 💓 e lancei-me. Despedi-me e decidi que ia ser
empresária a tempo inteiro!
Foi nessa altura que comecei a ler e a informar-me sobre empreendedorismo
e sobre investimentos. Uma coisa levou à outra e foi aí que a minha
mente começou a amadurecer. "Espera lá... O que é que eu estou a
fazer com o meu dinheiro? O que é que eu tenho feito com o meu
dinheiro?". Continuava a gastar rios de dinheiro em roupa e em
coisas supérfluas estupidamente.
Mas não fez logo o click! Posso dizer que durante uns 2 ou 3
anos eu recebia um rendimento passivo, completamente, sem fazer nada. Se eu o
tivesse poupado, nem que fosse metade disso, o que eu podia fazer hoje! Mas
não... gastei! Utilizava-o como income! Ok, era o meu income quando
não tinha trabalho, mas mesmo quando tinha trabalho, podia ter guardado esse
rendimento e não o fiz! Burra!
Enfim, só muito mais tarde, em 2019, comecei a aplicar o
conhecimento que tinha vindo a ganhar até então: comecei a poupar a
sério e constituí um fundo de emergência em 2020. Apliquei-o e está longe da
vista e do coração. Continuei a poupar e criei um PPR. Comecei a pôr, todos os
meses, 10% do meu rendimento de lado, fosse o que fosse. Salário ou outras
fontes que ia tendo (trabalhos em freelance, projetos de cliente mistério,
inquéritos online... Tudo o que pudesse agarrar que me desse rendimento extra e
se encaixasse na minha vida). Já em 2021, no início do ano, dei um
passo à frente e entrei nos investimentos; comecei a investir em bolsa, com
montantes pequenos, só para experimentar, por enquanto; vou reforçando, ao
mesmo tempo que me vou informando, estudando mais sobre o assunto, pois o
conhecimento tem de estar sempre na base de tudo isto. Sobre os
investimentos, ainda estou numa fase muito embrionária, quase de teste, mas
tenho planos a médio e longo prazo para essa ser uma realidade com cada vez mais
peso na minha vida. Porque, ao contrário do que eu fui ensinada - e
quererei passar tudo isto, esta mentalidade, à Lia, naturalmente - guardar
dinheiro debaixo do colchão é só estúpido.
Além disso, comecei a ser muito mais frugal e
minimalista; deixei de consumir só porque sim. Penso duas vezes antes de
comprar alguma coisa. Ou seja, só há 2 anos eu comecei a AGIR de forma
diferente.
O meu maior
arrependimento foi não ter começado mais cedo. Tive as condições para. Mas
agora, com uma filha e muito maiores living expenses, e com esta
história da pandemia e outras questões profissionais que levam que o meu
salário seja on and off... é muito mais difícil do que teria sido
naquela altura. O que eu podia ter aproveitado e não aproveitei. Burra!
Mas, enfim, pouco de vale o arrependimento! Não posso voltar atrás. Mais
vale agir agora como queria ter agido aos 20, para aos 40 agradecer ao meu Eu
de 30 de hoje, por ter começado a trabalhar na minha visão do futuro!
E
que visão é essa?!
Bom,
eu, definitivamente, e digo-o sem vergonhas, eu não quero trabalhar por
obrigação até me poder reformar. Eu não quero depender do estado, e de
subsídios, e de reformas, e do destino, e da sorte, e de ajudas. Eu quero ter
liberdade. Eu quero trabalhar por gosto, a fazer o que gosto, por
paixão, porque sim, não porque tem de ser; não quero ter uma
vida em que tenho de trabalhar em alguma coisa porque é preciso pagar a fatura
da água e da luz. O meu objetivo é claramente atingir a liberdade
financeira. Isto não é ser gananciosa, mas sim, ambiciosa num nível
saudável.
(E não, não quero enveredar pelo caminho de Marketing Multinível. Tenho
horror e não me identifico minimamente. Há outras formas de se chegar lá. Párem
de me assediar no Instagram só porque sou mãe e é trendy para
todas as mães terem o seu próprio negócio e trabalhar na praia a vender cremes
para as rugas enquanto se bebe uma caipirinha. #NotForMe #BeenThereDoneThat
#ItIsNotLikeThat.)
Nos próximos anos sei que vou trabalhar muito, e em duas frentes: tentar
ganhar mais e gastar menos. O segredo está na diferença entre o que se ganha e
o que se gasta. Essa diferença, bem trabalhada, bem aplicada, este mês pode ser
pouco, no próximo também, mas daqui a 10 anos pode significar algo diferente.
Criar fontes de renda passivas, aplicar dinheiro para que ele se multiplique, é
perfeitamente possível com um método bem escolhido, que se adapte ao nosso
perfil e modo de vida.
Esta
é a minha mentalidade de hoje. Gostava de a ter tido mais cedo, mas tudo tem o
seu tempo!
O
meu objetivo não é ser rica, mas sim ser livre! A verdadeira riqueza é a
liberdade! Não é a quantidade que temos na conta bancária, mas sim o estilo de
vida!
(Daqui
a 15 anos voltarei aqui para reler este post e ver se consegui
ou não chegar perto disso 😂 Mas acredito que sim! Quando eu meto uma coisa na
cabeça, dificilmente alguém ma tira.)
PS.
uma das coisas que me impulsionou muito a mudar a minha forma de pensar e de
agir neste campo, foi o projeto Money Lab. A
sério, aconselho muito a seguir, tudo. Instagram, newsletter,
podcast, o curso que ela tem "Do Zero à Liberdade Financeira". O
Podcast então é muito bom, todas as semanas oiço religiosamente e com muita
atenção e tiro notas. É informação disponibilizada gratuitamente e a Bárbara
Barroso é um ídolo para mim, neste campo, e faz verdadeiro serviço
público. Todos os episódios do podcast, até hoje, aqui.
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