domingo, 4 de agosto de 2024

Sou organizada em tudo menos nisto.

 

Eu sou uma pessoa extremamente organizada. Quase obsessivamente organizada. Não gosto de caos, não gosto do imprevisível, não gosto de coisas fora do sítio - embora saiba que tudo isso faz parte da vida e tenha arranjado mecanismos para lidar com.

 

    Sou organizada com os planos do quotidiano: tenho tudo anotado numa agenda em papel (mesmo old school) e complemento com o calendário no telemóvel e os seus úteis reminders. Faço listas e listas e dá-me um gozo enorme, não riscar (nunca riscar!) mas sim colocar um "check" quando completo tal tarefa. Chego ao ponto de incluir, numa determinada lista, um item que já completei, só para poder fazer o check naquele momento...

 

    Tenho dossiers organizados por separadores e em cores, um para assuntos pessoais, outro para assuntos profissionais ou de projetos. Se me pedirem algum documento importante, eu sei escrupulosamente onde está. Nunca me esqueço de levar um documento importante para onde é preciso, quando é preciso. As chaves de casa estão sempre no mesmo lugar e nunca me aconteceu sair sem elas. Tenho as pastas organizadas no PC por áreas, temas e subtemas. Tenho, nos meus diversos emails, pastas com cores diferentes para cada tema ou assunto. Tenho de limpar as caixas do spam e do lixo todos os dias. 

A obsessão do "ser certinho" chega ao ponto de, por exemplo, só começar um novo tema de escrita numa nova página de um caderno. 

 

    A casa tem de estar sempre arrumada, as camas sempre feitas e a loiça suja sempre na máquina. Não suporto desarrumação, desorganização, sujidade. As toalhas sempre enroladas nos armários, cada caixa serve para o seu propósito.




 

    Para me ajudar a manter esta tarefa de manter o caos longe da minha vida, também prático o desapego. Detesto manter coisas que não têm qualquer utilidade. Detesto ter caixas e bolsas a mais. Detesto ter bibelots em cima dos móveis que acumulam pó. Detesto tapetes e cortinas. Gosto de tudo liso. Móveis quase vazios. Superfícies fáceis de limpar. Loiça, só a que é necessária. Prefiro ter de lavar um prato que está na máquina porque preciso de o usar e já não tenho nenhum, do que ter 30 pratos no armário quando só preciso de 3.

 

    O mesmo se aplica a coisas não palpáveis:  por exemplo, detesto deixar capítulos de livros a meio; tenho sempre de terminar aquele capítulo. Não gosto de começar a ver uma série nova sem ter terminado a que estou a ver. Gosto de fins antes de novos inícios. Apago tudo o que é mail que não interessa. Tudo o que interessa, leva a etiqueta respectiva e segue para a caixa respectiva. Detesto ter emails por ler. Assuntos por resolver. Preciso resolver as coisas, metê-las em caixas, e muitas vezes atinjo isso através da escrita. Ajuda-me a organizar o caos que é a minha mente. 

 

Enfim, sou completamente freak nestas cenas da organização e de ter tudo a "fazer sentido na minha cabeça". 

 

    Mas há uma coisa específica na qual eu simplesmente não consigo ser organizada. Já tentei várias formas, várias estratégias e nunca consigo "stick to it". Afinal, a exceção confirma a regra, não é?


E essa coisa é... COMIDA. o raio da comida. As refeições. A planificação das refeições. E isso irrita-me. Porque, ora vejamos, eu tenho todas estas regras e estes rituais de organização e desapego, para simplificar a vida. Porque o caos me deixa irritada e frustrada e com uma sensação de perda de controlo, eu aplico todas aquelas coisas para que a vida siga mais simples e descomplicada - embora, eu sei, pareça o contrário, para mim é o que funciona e eu gosto dessa minha vertente. E eu queria ser assim com a comida porque eu detesto ter de pensar todos os dias no que vou comer, pensar no que tenho de cozinhar.

 

I fucking dread it.

 

    Eu sempre detestei cozinhar, sempre tive aversão a tudo o que tivesse a ver com a planificação de refeições. Por isso, essencialmente só comia coisas rápidas, de ir ao forno ou microondas, massa com atum, pão e bolachas e estava a andar.

 

    De há uns 3 anos para cá, decidi que tinha de começar a comer de forma mais saudável. E consegui. Mas aquele plano de fazer 2 sopas incrivelmente saudáveis por semana e todos os dias um prato colorido diferente falhou redondamente. Não tinha paciência para cozinhar tanto quanto o plano exigia por isso começava a fazer panelões da mesma sopa e congelar que desse para comer 2 semanas até enjoar e ter de me preocupar de novo. 

 

    Depois, achei que tendo uma Bimby ia resolver. E resolveu, em parte. Ajuda a fazer pratos mais elaborados. E ajuda porque dá para planificar a semana e criar listas de compras automáticas baseado no que decidimos fazer essa semana. Mas consigo seguir esse plano? Epa, não. E o mais parvo é que não sei explicar porquê mas sou incapaz de seguir os meus planos de refeições. Tenho dezenas de receitas guardadas em pastas que criei na Bimby, mas faço alguma? Raramente. 

 

    Esta necessidade de planificar as refeições acentuou-se com a vinda da Lia. Quando chegou a altura da introdução alimentar, lá senti essa pressão. Oferecer coisas diferentes saudáveis todos os dias. Começava sempre motivada mas depois a desmotivação apoderava-se de mim! Quando ela foi para a creche, foi um alívio! Só tinha de me preocupar com 2 refeições (pequeno almoço e jantar), e não com 5 por dia. Depois veio o novo confinamento e lá voltou essa pressão. Bom, decidida, mais uma vez, a contrariar essa minha falta de vontade e planeamento na cozinha, fiz um plano. Uma lista de pratos saudáveis acompanhada de uma lista de compras que eu sabia que tinha de comprar aquilo e pronto. Era só fazer! 

 

    Só que não! Comprava tudo de uma vez e depois não dava andamento, a fruta apodrecia, tinha de deitar comida fora, ficavam restinhos aqui e ali (e a minha mente freak de organização e desapego também detesta restos de comida e pacotes meio cheios), os dias e as semanas iam passando e já dava por mim a nem sequer olhar para o plano que orgulhosamente tinha construído e posto no frigorífico com um íman todo bonito. 

 

    Simplesmente não consigo. Não consigo planificar refeições mas sobretudo não consigo seguir as planificações que às vezes até faço. Por isso, o que acontece é: para ela, todos os dias penso em algo no momento; excepto a sopa, essa faço logo para todos os jantares (que alívio que foi o regresso à creche, nesse aspecto!). Para mim: faço um ou dois pratos em quantidade massiva para os meus almoços durante a semana. E sim, às vezes fico a comer a mesma coisa 3, 4, 5 dias ao almoço, mas prefiro isso a ter de pensar, todos os dias no que é que vou fazer para o dia a seguir. É fisicamente e psicologicamente desgastante, gasta demasiado tempo e recursos. 

 

    O homem cá de casa é responsável pelas compras e por fazer os jantares (menos uma preocupação para mim), já que compras de supermercado é outra coisa que dispenso completamente, e ele muitas vezes se queixa que não lhe digo tudo o que é preciso comprar. E ele tem razão, causa frustração ele ir às compras e no dia seguinte eu lembrar-me que afinal é preciso mais não sei o quê... Eu tento lutar contra isso, mas esta minha fraqueza é difícil de contornar. 

 

    Eu já tentei aplicar o meu gosto acentuado por organização, a esta área da minha vida mas a verdade é que... I still fucking dread it and I can't stick to it. O melhor é mesmo aceitar essa realidade!

 

    Se eu tivesse possibilidades financeiras para tal, a minha prioridade máxima seria contratar uma cozinheira ou alguém que pensasse nisso e fizesse isso por mim, na totalidade. Se alguém se oferecer, eu aceito e delego na hora!   Não ter de, constantemente, me preocupar com o que vou comer amanhã e o que terei de cozinhar e ter isso simplesmente feito por mim... Seria uma benção!!!

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário