Ser
resiliente é um conceito sobrevalorizado. Sempre tive esse feeling,
mas nunca sabia explicar bem como.
"Desistir é para os
fracos!", "Tens de ser resiliente!", "Tens de ser
persistente, mesmo quando algo está a ser muito difícil!", "Não
existe sucesso sem resiliência", "Tens de", "Tens de",
"Tens de (...) ou és fraca".
(Já para não falar dos repetitivos
"tens de", "deves", "assim é que é correto" com
os quais somos sempre impingidos, mesmo que no nosso íntimo saibamos que algo
não faz o menor sentido!)
E essa ideia é
reforçada constantemente e acaba por fazer eco "Tens de, senão és
fraca". "Não ser resiliente é ser fraco".
Esse é o conceito
predominante.
Mas, e se olharmos para
isso com outra perspetiva? A perspetiva que eu sempre olhei, mas que nunca
tinha, realmente, encontrado as palavras para descrever.
No outro dia, tropecei,
literalmente, neste conceito. E fui pesquisar mais. E descobri que era isto que
se adequava mais à minha forma: ser anti-frágil.
O conceito surge do livro, escrito por
Nassim Nicolas Taleb "Antifragile: Things That Gain From Disorder".
Não li o livro, confesso. Mas li sobre o conceito e formei a minha própria
interpretação (vale o que vale 😛 )
À partida, ser
anti-frágil é o mesmo que não ser fraco, o que nos remete novamente para a
ideia de ser resiliente (sendo a resiliência o antagónico de
fragilidade).
Mas não podia estar
mais longe da verdade, o que só prova que esses chavões e frases feitas não
passam disso mesmo. É auto-explicativo e nem preciso de aprofundar esse tema.
O anti-frágil não é
algo que resiste. É algo que se molda. E, nesse processo de se moldar, ele
transforma-se para algo melhor, uma versão menos frágil de si mesma. O
anti-frágil não quebra, como um material fixo, ele é flexível, como um material
capaz de levar vários embates, saber dar-lhes a volta, e não recuperar a forma
original, mas levar com novos embates, já tendo essa nova forma.
Segundo a física, "Resiliência é a propriedade que alguns corpos apresentam de
retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação."
Traduzindo para a linguagem corrente, ser resiliente seria levar com estímulos
e experiências negativas, que causam sofrimento, angústia, tristeza,
desconforto - entre muitas outras experiências humanas negativas e que causam
ansiedade - e não se abalar.
Anti-frágil é, portanto, um
corpo, um conceito, que se vai moldando com o tempo. Nunca deixa de ser
inteiro, mas nunca fica resignado a esses estímulos e experiências negativas.
Ultrapasso-as e eleva-se a eles.
O paradoxo disto é que, em física, os
materiais mais resistentes são os que são moldáveis. Então, porque
insistimos em dizer que a resiliência é nunca quebrar? É nunca
"desistir", é nunca mudar de rumo, é continuar a insistir mesmo
quando não queremos, just for the sake of it.
Não faz sentido
absolutamente nenhum e se, durante muito tempo, me chicoteei por não ser
"resiliente" o suficiente, hoje em dia consigo (e ainda bem) olhar
para esta questão de uma forma bem diferente. Sou anti-frágil no sentido em que
me moldo com as experiências e sei reconhecer quando elas já não me servem, já
me moldaram o suficiente, e ser "resiliente" nelas significaria
deixar que elas me quebrassem.
E portanto, para mim,
após reflexão longa sobre o assunto: a fragilidade é continuar a
insistir em situações, coisas, circunstâncias, escolhas que podemos alterar e
não o fazer porque estamos presos à ideia fixa de que temos de ser
"resilientes". O ser anti-frágil é precisamente isso: sim,
enfrentar essas coisas, sim, embater de frente com elas, sim, sofrer com elas,
mas também sim, saber pôr um ponto final, alterá-las. E ao alterá-las, sair
mais forte delas. E quando digo sair mais forte não é continuar no sofrimento
auto-imposto só porque sim, mas sim, saber que para a próxima, já sabermos que
aquilo não é para nós. No fundo, é não repetir os mesmos erros.
O
anti-frágil renova-se, o resiliente insiste até quebrar.
Não ser frágil é saber ficar vulnerável perante determinada situação e
beneficiar no crescimento que a vulnerabilidade nos traz, mas no fim, saber que
aquela situação nos deixa vulnerável e não deixar que isso volte a acontecer
porque já conhecemos aquela realidade, já sabemos como reagimos àquela
realidade, já crescemos com ela, e portanto, haveremos de nos confrontar com
outras realidades que nos causam sofrimento, desconforto e vulnerabilidade e
então saberemos beneficiar da vulnerabilidade e do desconforto até ao ponto
ótimo, saberemos ser anti-frágeis e saberemos o que fazer para sair delas até
voltarem a aparecer com outra roupagem. (É como tudo... há um ponto que é o
ótimo, a partir daí já é maléfico).
Sim, é um ciclo. E é uma arte. Uma arte que estou a aprender a dominar.
Para ser
anti-frágil, é preciso experimentar. Experimentar e errar e perceber
que não é aquilo e em vez de continuar a insistir, é experimentar algo novo e
diferente outra vez. E outra vez, e outra vez. E as vezes que forem
necessárias. Quando criamos situações de risco, situações novas, então
podemos errar e aprender. Um dos "mandamentos" da
anti-fragilidade é "focar mais em evitar o que não funciona do que em
descobrir o que funciona". Para mim, essa ideia é fascinante. Porque cada
coisa que começo, eu não faço ideia se é "a coisa que funciona para
mim"; mas logo descubro se é ou não é e, se não for, o importante é focar
em sair dela e evitar entrar de novo nela.
Adorei aprofundar o
conceito de anti-frágil e vou continuar a explorá-lo e aplicá-lo na minha vida
e nas minhas vivências, porque faz sentido para mim.
E
sobre a frase "Não existe sucesso sem resiliência"... Talvez o meu
conceito de sucesso seja ser cada vez mais anti-frágil.
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