domingo, 4 de agosto de 2024

Os discursos internos negativos e as comparações. Reeducar-me a mim mesma / Exercícios de auto-observação interna

 

Não tenho vindo escrever tantas vezes quanto gostaria, ou como imaginava que viesse, ou como outrora já o fiz. Escrever sempre foi a forma mais terapêutica e de ficar em contacto comigo mesma que tive e, embora mantenha um caderno onde praticamente todos os dias escrevo para mim mesma nem que seja só uma palavra, ou uma frase, ou um esquema, porque às vezes tenho um caos interior tão grande que nem consigo descrevê-lo de forma fluída e fazer esquemas da minha própria mente é a forma que tenho de a organizar minimamente, gosto também de partilhar esta minha fase de processo, este ciclo que estou a atravessar.

 Depois, coloco-me aquela pressão de sempre, tens de escrever, tens de ir ao blog, e pergunto-me a mim mesma mas tens mesmo? mas porque é que tens?, mas porque é que tens de partilhar?, mas porque é que não podes só escrever para ti?. E depois respondo-me cala-te, já não te posso ouvir.

Tenho montes de posts em rascunho, e escrevo-os todos na minha cabeça, mas quando aqui chego, não sai nada.

A verdade é que tenho feito mais esquemas porque os textos não me saem, depois fico irritada quando escrevo um texto porque não ficou como eu queria, e voltam as vozes, talvez devesses escrever poesia novamente, pega no "livro" (nunca publicado, propriamente, apenas editado amadoramente) de poesia que fizeste aos 16 anos e recicla, tantas das ideias que tens lá, ainda as tens agora, 16 anos depois, com uma nova roupagem e outra maturidade. Depois respondo-me já não tens jeito. Depois começo a pensar, que podia ter sido escritora, ou blogger famosa, e hoje viveria disso, mas sempre me foi incutido, que escrever não dá dinheiro, quando ão havia internet a vida da escrita era só mesmo escrevendo livros, e depois já se sabe, ninguém consegue, é muito difícil, tira essa ideia da cabeça e arranja um trabalho a sério. E arranjei, um, dois, vários, dezenas, já fiz milhentas coisas, nunca encontrei nada que me realizasse mesmo por mais de 3 anos. Mas enfim, e evitando dispersar-me, ainda em relação à escrita, começo frases e não as acabo, a escrita não acompanha o pensamento, está tudo demasiado embrulhado. Aceito e abraço o embrulho.

Embora já tenha tido várias "crises de desenvolvimento pessoal" desde que me lembro de ser pessoa (caramba, agora que penso bem, e se fizer um esforço por me lembrar, acho que até mesmo antes da adolescência eu tinha questões profundas e ficava a matutar nelas, mas não havia internet na altura), nunca as tinha apelidado desta forma. Acho que nunca as tinha apelidado, de todo, só descobri que "desenvolvimento pessoal" é uma cena, agora, aos 32 anos.

Tenho sentido profundas sensações de desconforto, dor, sombra, questionamento, e uma falta generalizada de senso de valor, mas ao mesmo tempo, está a ser uma das fases mais bonitas. Porque gosto de pensar, gosto de questionar, gosto de ler sobre temas e sobre perspetivas que outras pessoas já tiveram sobre temas, às vezes tão específicos que nem o Google me devolve a informação que pesquiso, e sinto que se gera uma força qualquer criativa dentro de mim, que me serve a vários níveis. É como um sentir-me mal que me faz sentir bem. Uma coisa muito ambivalente e com aquela intensidade de sempre que me deixa exausta.

 




Os discursos internos negativos e as comparações. Reeducar-me a mim mesma.

Auto-discursos negativos. Tenho muitos. Tantos. Um dos meus desafios é mesmo conseguir reeducar-me para ser menos má comigo mesma. Podem não ser pensamentos diretos, mas são crenças que uma e outra vez se manifestam. Não sou suficiente, não mereço, não valho nada, não consigo nada, o que fiz até hoje, e foi muita coisa, não teve valor nenhum, tudo falhou, desisti de tudo, fui sempre atrás de coisas novas porque as experiências novas me atraem, porque adoro mudanças, por isso nunca consegui construir nada com pés e cabeça, com início e fim; os teus pensamentos são parvos, as tuas emoções são estúpidas, não tens nada que te queixar, não tens de te sentir assim.

Porque é que eu sou assim comigo mesma? Penso, diria estas coisas a qualquer outra pessoa? Diria à Lia? Nunca! Porque digo a mim mesma?

A minha cena agora são podcasts de desenvolvimento pessoal. Passo horas e horas a ouvir, sobre vários temas, várias pessoas que também estão no processo (embora muitas digam que "passaram pelo processo", eu acho que sinceramente é um processo que nunca acaba propriamente, e ainda bem, porque acho que no momento em que achamos que está tudo bem e que estamos bem, é o momento em que deixamos de evoluir), e tendo a comparar-me. Lá vem a voz outra vez: porque ainda não tinhas pensado nisso, porque esta pessoa é mais evoluída do que tu, porque esta pessoa tem um podcast brilhante, e se começasses a fazer o mesmo? Claro que não tens coragem. Esta pessoa tem um blog super conhecido, esta pessoa escreveu um livro, se viveres isto sem partilhares com ninguém, não és nada.

Estou em puro processo de ser mãe de mim mesma, de me reeducar, para que estes pensamentos não surjam tanto ou para, quando surjam, eu consiga identificá-los e perceber o quão mal faço a mim mesma com isso. Mas definitivamente que estou numa fase frágil, vulnerável e de muitíssima insegurança.

 

Exercícios de auto-observação




A voz. As vozes. Aquelas vozes. Esses discursos, são estas vozes, que tantas vezes deixamos que nos definam, porque se tornam a nossa realidade, criando todo um ciclo de autosabotagem, criando a tal sensação de fraqueza, de falta de valor, tu não és ninguém no mundo, não és especial, mas porque é que queres ser especial? Porque não podes só ser normal e não ter qualquer necessidade desse género? 

Recentemente descobri e tenho explorado o tema da relação sujeito-objeto que temos com essas vozes interiores. Eu não sou essas vozes. Eu não sou esse discurso nem o que ele me diz a mim. Se eu consigo ouvi-las, eu não sou elas. O mesmo se passa com os pensamentos e emoções. O ganho de controlo sobre todo esse caos interior é, de facto, um caminho muito plausível para essa paz interior que ambiciono. 

É um conceito bastante complexo, abstrato, até a tocar no exotérico, algo difícil de interiorizar, mas que faz todo o sentido, tenho explorado mais, e noto que realmente estou a tomar consciência de todos esses discursos e todas essas nuances que anteriormente era simplesmente "eu", percebo agora, que não sou eu. É o meu ego, e todas as camadas de memórias, de crenças, de medos, de vergonhas, de culpas, de bloqueios. O facto de conseguir observar essas coisas permite-me olhar para elas de forma objetiva e se me permite separar-me delas, simbolicamente, permite-me libertá-las. Ainda agora tomei conhecimento disto, mas quero muito dominar esta arte.

A tomada de consciência e o conhecimento é o primeiro passo para tudo, no fundo, e como em tudo o resto. Conhecimento é poder. Dou agora por mim, no dia-a-dia, quando fico demasiado envolvida e absorvida nos meus pensamentos, conseguir literalmente sair deles e pensar lá estás tu a dizer isto a ti mesma outra vez; chego a pôr em esquemas, em papel, e vou dissecando essa coisa, recorrendo à lógica, sei que não é verdade, que são discursos e pensamentos que criei, que "não são eu". O manter essa consciência, é definitivamente o mais difícil. Existem camadas e camadas de coisas por explorar e o mais natural é ficar absorvida por elas. Definitivamente já identifiquei uma série de coisas que preciso libertar, que me pesam, que me fazem mal, montes de necessidades que eu não quero que sejam necessidades, quero parar de olhar tanto para fora, quero olhar mais para dentro, sentir-me mais suficiente, sentir-me em paz. De certa forma, um processo de morte e renascimento, para um novo eu, que espero que inicie em breve um ciclo um pouco mais pacífico, porque estas fases são emocionalmente esgotantes.

Já houve tantos "issues" que tive no passado e que os ultrapassei, que hoje não são nada, até gozo comigo mesma, a sério que nessa altura te preocupavas com isso?, sei que sou capaz disso, sou tão bem resolvida em tantos assuntos, fico tão orgulhosa quando oiço nesses tais podcasts sobre temas que são problemas reais e aparentemente sentidos e vividos por muitas pessoas, que penso "felizmente estou bem resolvida quanto a isso", mas tão mal resolvida quanto a outras coisas, tão essenciais, também.

Enfim, isto é o que é possível por hoje. Depois de muitas frases inacabadas, às quais voltei uma e outra vez para as terminar, consegui organizar mais ou menos um texto com uma abordagem superficial de alguns temas que tenho aprofundado.

Acho que estou a começar a desidentificar-me com esta forma de escrita e vou procurar outras formas de libertar, de expressar e de curar.

Logo vejo, podes calar-te, voz que me diz quando vais voltar a escrever?

 

 

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