Olá, eu sou a Cláudia, tenho 32 anos, mas na
realidade, sinto que já vivi 50 😂
Fora de brincadeiras, esta questão de eu ser uma
pessoa tão mutável, é um tema que exploro muito, ao qual sou ambivalente, por
um lado acho que não devia ser assim, por outro, cada vez mais aceito isso como
minha essência e como forma de estar na vida, que pode ser muito positiva e que
me faz sentir muito bem.
Vamos lá ver uma coisa. Apesar de achar que não
existem propriamente verdades absolutas, existem pelo menos coisas constantes,
mesmo no meio da "inconstância".
Uma coisa constante e dominante na minha vida sempre
foi a mudança. Numa primeira fase (infância,
adolescência), era a mudança imposta e que me incomodava. Sentia que não tinha
um sítio, que não pertencia a coisa nenhuma, hoje era uma coisa, amanhã podia
ser outra. Era uma imprevisibilidade, mas como não era eu que a escolhia, era
difícil.
Depois, mais tarde, comecei a perceber que há algo na
mudança que me atrai.
Esta necessidade de mudança e de novos ciclos
manifesta-se essencialmente na componente educacional/profissional da vida
(manifesta-se noutros campos, mas muito predominantemnete neste!).
No secundário, escolhi Ciências, depois mudei para
Humanidades. Na faculdade, entrei para Gestão de Recursos Humanos, depois mudei
para Psicologia (porque sou entusiasta por perceber o funcionamento da nossa
mente humana, acho mesmo fascinante, a um nível teórico, acabando por nunca
propriamente exercer). Terminada a licenciatura e o mestrado (se hoje pudesse
voltar atrás, ainda teria seguido por um doutoramento - possibilidade que
coloquei volvidos muitos anos mas que acabei por não avançar - porque sou apaixonada
por conhecimento), fui trabalhar para uma empresa de comunicação, era repórter,
escrevia para uma revista, fazia reportagens. Depois saí e dediquei-me à minha
própria empresa, em conjunto com uma amiga, a Mulher XL. Depois decidi ir
vender casas. Pelo meio e até mesmo paralelamente (antes de ser mãe, sentia que
tinha todo o tempo do mundo, e tinha, então chegava a ter 3 ocupações de uma
vez só, ainda que houvesse sempre uma principal e outras pontuais), trabalhei
em vendas, passei por todos os negócios de multimarketing (ganhei aversão e
hoje digo, nunca mais), part-times perdi a conta, fui cliente mistério, fui
vigilante de exames, escrevi para sites e revistas, fazia reviews a produtos e
eventos, entre outros. Depois comecei a trabalhar em condomínios porque
entretanto, ganhei uma nova paixão pelo imobiliário, e já que ser consultora
não dava para mim (porque envolvia venda direta, coisa que aprendi que, e
apesar de dizerem que "é para toda a gente", meus amigos, não é). Por
fim, e é onde estou agora, comecei a trabalhar na universidade onde estudei,
como administrativa.
Já fiz tanta coisa e sem absolutamente nenhum fio
condutor. Ao ponto que tive de refazer o meu Linkedin e o meu
CV porque era demasiada coisa e nada batia certo com nada. Hoje em dia, nem
sequer me defino com o meu trabalho, quando digo "o que sou", digo
"estou a trabalhar em". Porque me conheço e porque nesta
jornada contínua de autoconhecimento, aprendi uma coisa valiosíssima sobre mim:
eu coloco-me propositadamente em situações de mudança profissional,
preferencialmente para coisas radicalmente diferentes.
Todas as experiências que tive e às quais me propus
foram sempre acompanhadas por milhentas formações e cursos, algumas no âmbito
das entidades onde as fiz, outras por iniciativa própria e como autodidata.
Na gaveta, já ficaram N projetos que não cheguei a
iniciar, como ser instrutora de condução, personal organizer, ou
candidatar-me a uma bolsa de doutoramento. Entre dezenas de outras ideias e
projetos.
Sinto que a cada mudança destas, "morri" e
renasci. Foram processos de morte e renascimento, porque acabei por ter
personalidades e "personas" diferentes consoante as fases em que
estava.
Se me perguntarem porque é que estas coisas
"acabaram", antigamente eu atribuiría a fatores externos! É porque o
estágio acabou e pagavam mal se continuasse, é porque o mercado estava mau para
manter uma empresa aberta e precisava de um salário fixo, é porque não dava
para viver a recibos verdes, é porque entretanto engravidei e precisava de algo
mais estável, é porque vendas é um trabalho horrível etc etc....... MAS se há
coisa que aprendi é que temos de assumir a RESPONSABILIDADE pelas nossas
escolhas, e eu hoje olho para trás e vejo claramente que todas aquelas
coisas acabaram porque eu decidi que já não cabiam mais na minha vida ou na
pessoa diferente em que me tinha tornado depois de passar por elas. Da
mesma forma, tudo o que ainda não fiz e quero fazer, são também por escolha
minha, e está também nas minhas mãos, um dia decidir fazê-las. É sempre
tudo interno, não dá para evoluir se continuamos a achar que o problema está no
externo.
As minhas narrativas internas sobre isto
As minhas narrativas internas sobre este assunto têm
variado largamente ao longo dos anos e considero que isto também faz parte do
meu processo de desenvolvimento pessoal.
Inicialmente era assim: tenho de escolher algo
que me apaixone e tornar-me boa nisso. Muito guiada pelo que o meu pai
aconselhava (sempre foi e ainda é um dos meus melhores conselheiros a quem
recorro quando tenho dilemas existenciais ou decisões de vida importantes, e
apesar de muitas vezes decidir em contrário, gosto sempre de ouvir a perspetiva
dele), preferencialmente alguma coisa com futuro, uma profissão que desse
dinheiro.
Quando percebi que as profissões que davam dinheiro
não davam para mim, porque geralmente envolviam matemática, então o meu
discurso interno passou a ser: tenho de encontrar algo que goste, mesmo
que não dê muito dinheiro, e tornar-me boa nisso.
Quando me apercebi, a certa altura, de que estava
sempre a saltitar, já tinha este padrão bem identificado em mim, e comecei a
questionar-me porquê, achava que tinha algum problema, não conseguia
simplesmente "stick to it", independentemente do dinheiro que ganhava
ou de gostar muito ao início, apaixonava-me e desapaixonava-me, ia em busca de
algo diferente. O meu discurso interno era: tens um problema e tens de
o resolver.
Ao longo do tempo, fui percebendo que o meu problema
talvez não fosse assim tão problema. É o que é. Não posso forçar-me a
ficar em algo que já não me satisfaz só para seguir aquela velha máxima do
"não posso desistir porque desistir é para os fracos".
Aliás, ainda há relativamente pouco tempo, cerca de 2
anos, eu tive uma crise dessas. Estava a odiar o meu trabalho
e fiquei 6 meses em modo depressão a achar que era uma desistente e que era uma
fraca porque mais uma vez estava a desesperar para sair de onde estava porque
estava a detestar aquilo que fazia e já não me dizia nada. Consegui ultrapassar
essa neura e hoje em dia já não me acho nada fraca nem desistente por isso. Mas
foi um período muito difícil, mesmo, esse.
Hoje eu escolho ter uma narrativa mais positiva. O que eu penso para mim mesma hoje é: ok, hoje tou aqui,
amanhã sei que vou estar acolá. Sei que as coisas novas me entusiasmam porque
adoro aprender.
Talvez a minha "missão" não seja encontrar
uma única coisa que me satifaça por completo para o resto dos meus dias. Porque
a verdade, é que duvido muito que exista uma única coisa que me satisfará por
completo. O que me satisfaz por completo é ir atrás de coisas novas.
Hoje em dia, o meu pensamento sobre isto é claro: sim,
eu hoje estou aqui, e amanhã vou estar acolá, e isso não faz de mim fraca. Eu
reprogramei-me para parar de pensar mal de mim mesma e falar mal para mim mesma
e de alimentar os meus habituais discursos internos negativos por causa disto. O que fazemos para ganhar a vida é isso mesmo, o que
fazemos para ganhar a vida. Não nos define. Há algo mais para além disso que
nos define. E definitivamente há algo mais para além deste "saltitar
constante" que acaba por definir parte de quem eu sou (desenvolverei mais
abaixo), do que propriamente o que estou a fazer a determinado momento para
pagar as contas.
A ligação disto com a minha noção de auto-valor
Se eu ler o meu CV de fio a pavio, ou o início
deste post, ou simplesmente me relembrar de tudo o que fiz, se eu
lesse isto sobre outra pessoa qualquer, eu ficaria orgulhosa. Pensaria, esta pessoa
já fez de tudo! Já aprendeu tanto, já se expôs tanto, já se arriscou tanto!
E a verdade é essa! É que eu não tenho medo de
arriscar! Eu não tenho medo nenhum de hoje sair de onde estou e amanhã
começar uma coisa nova. Aliás, isso entusiasma-me imenso! Acho que é
uma competência brutal, esta capacidade de me reinventar, e já
estabeleci isso comigo mesma: sim, eu tenho uma capacidade brutal de me
reinventar e de me adaptar a novas coisas!
E porque já ganhei tantas competências por fazer
tantas coisas diferentes, sei que de hoje para amanhã e em caso de
necessidade, conseguiria procurar um outro qualquer emprego, mostrar que
tinha capacidades para o aprender e por isso ser aceite, aprender efetivamente,
tornar-me competente nele e ainda adaptar-me bem ao mesmo, por ter facilidade
de adaptação. Tenho essa confiança e isso é bom!
No entanto, e estando consciente de que isto é uma
contradição imensa (na qual estou a trabalhar para mudar esse chip), eu
sinto que não tenho valor nenhum, que não tenho mérito nenhum, que nunca fiz
nada de jeito, que não faço nada de jeito, etc.
E porquê? Após pensar e matutar muito neste assunto,
eu entendi que eu pude fazer todas estas coisas, porque nunca tive necessidade
de sobrevivência extrema. Acredito que quem tem realmente necessidade de
sobrevivência extrema não se possa dar ao luxo de fazer o que eu fiz, faço e
sei que ainda vou fazer. Se pensarmos na Pirâmide de Maslow, eu realmente
nunca tive de me preocupar com a bases dela. Então, no fundo, sempre vivi ali
mais para o topo. As minhas mudanças e experimentações são muito à base
desta busca de auto-realização constante, de autoconhecimento constante, de
evolução e de experienciar a vida.
É o facto de saber que tive e tenho bases, que
dificilmente irei passar fome, literalmente falando, que me dá a liberdade de
experimentação. Eu nunca soube o que era isso, nem mesmo quando tinha
trabalhos não remunerados, que mais uma vez, é um luxo e um previlégio, que não
fiz nada para o merecer.
E esse previlégio faz-me sentir culpa e
vergonha, e por isso, sinto que nada do que fiz tem valor, porque apenas
teria valor se o tivesse feito preocupada com a minha sobrevivência básica.
Porque esta crença de sofrimento = merecimento está muito
vincada em mim.
Acaba por ser uma exigência imensa para comigo mesma
pois é como se dissesse, em loop "não vales nada por
teres feito isso tudo, para ti foi fácil, nunca precisaste pensar, em como
pagar a conta da água amanhã".
Aliás, ainda hoje falava com o meu pai sobre isso, e
sobre outros temas que se passam na minha vida, e ele disse logo: valor?
Mas tu já viste as coisas que já fizeste? Com a tua idade, eu ainda não tinha
feito metade! Claro que tens valor!
Claro que o meu ego fica inflamado e orgulhoso com
este tipo de afirmações (o que também não é bom, mas isso é todo um outro
tema), mas ao memso tempo aquela voz "ya, mas só conseguiste,
porque tiveste bases; sem isso nunca terias conseguido".
Eu sei que este pensamento é ambivalente e
complexo, está certo e errado ao mesmo tempo, e é um dos meus objetivos de
desenvolvimento pessoal atuais, é realmente, organizar este caos mental que
gira em torno deste tema.
O que faria se não tivesse de trabalhar? A minha lista
pós-FIRE
Quem me conhece sabe, que o meu objetivo é atingir o
FIRE - Finantial Independence, Retire Early, aka Liberdade
Financeira. E isto surge, porque eu me apercebi de que a minha vida
ideal era mesmo acordar todos os dias e fazer o que me apetecesse, ter a vida
que me apetecesse, ser a pessoa que me apetecesse. Ou poder iniciar projetos,
envolver-me neles e depois abandonar, quando me apetecesse, sem ter de pensar
em ganhar um salário para pagar as contas (porque sim, vamos lá ver,
eu tenho algum previlégio, mas não sou rica ao ponto de poder fazer isso só
assim).
Porque, realmente, eu acho que me encontrei
nesse ciclo-contra-ciclo. Já corrigi o meu discurso negativo interno de que
isso era um problema, então se não é um problema, então se realmente é uma
coisa que eu quero fazer na vida, este é um caminho muito plausível.
Então, organizei as minhas finanças, comecei a poupar mais e a investir ainda mais e hoje já tenho alguns rendimentos completamente passivos, os quais não utilizo para gastos recorrentes, utilizando-os para aumentar
o bolo dos investimentos e um dia chegar ao tão almejado FIRE. O que, no meu
timeline, se o conseguisse em 10/15 anos, seria excelente.
Saber que teria as minhas despesas de sobrevivência
asseguradas e pudesse fazer o que eu quisesse quando quisesse, seria um sonho,
e ao mesmo tempo penso, não é o que já tenho feito sempre? Sim, tenho feito
sempre isso, no fundo... com a preocupação de ganhar dinheiro. E se
conseguisse tirar essa preocupação da equação?
Então, no outro dia sentei-me e decidi organizar as
minhas ideias de tudo o que gostaria ainda de fazer, numa "lista
pós-FIRE". Achava que iriam ser só 3 ou 4 coisas, ideias e projetos que
foram ficando na gaveta, e acabei por encher uma página. Umas coisas puxaram
outras, as ideias começaram a surgir. E foi de tudo, desde o resgatar
daquela ideia de ir a casa das pessoas organizar as dispensas e as gavetas e as
vidas delas, como fazer retiros espirituais, como tirar uma licenciatura em
filosofia.
Então eu entendi realmente, e confirmei ainda mais
esta minha certeza: eu quero passar o resto da minha vida, não a
dedicar-me a uma só coisa que me apaixone, mas sim a começar novas coisas que
me apaixonem, esgotá-las até me desapaixonar, e começar de novo. É
realmente esta a mudança que me apaixona e não posso ter medo dela ou
perpeturar a expetativa social de que temos de nos especializar em algo e ficar
na mesma coisa até à "idade da reforma".
Toda essa ideia para mim é uma ilusão completa que já
deixei cair há muito.
Acho que, chegando a esse ponto, de liberdade total, o meu desafio seria outro,
seria o de escolher por onde começar, porque a verdade é que nos sentimos overwhelmed quando
temos demasiada escolha, mas vou deixar esse problema (bom) acontecer quando
tiver de acontecer e não já sofrer com ele por antecipação.
Hoje ganhei uma nova perspetiva
Mas, enfim, nada como ouvir. É logo no início do
episódio.
Resumindo
Este processo constante de desenvolvimento pessoal, é
isto mesmo: aceitar que hoje sou uma pessoa, mas amanhã serei outra.
Nunca somos a mesma pessoa que éramos ontem. No meu caso, isto
reflete-se muito a nível de "o que faço na vida". O que é facto é que
adoro aquele thrill da novidade e adoro o processo de aprender
tudo sobre essa coisa e, assim que percebo que essa coisa já não me desafia, já
não é novidade, e sobretudo, já não estou a aprender nada com ela,
então, deixa de fazer sentido.
Esta minha coisa de estar sempre a mudar acaba por
servir uma das minhas missões (acho que
são várias, não uma única), que é a de aprender coisas novas. Então,
antes inconscientemente e agora muito conscientemente, eu sei que vou
sempre atrás de coisas que me permitam simplesmente aprender, estar exposta a
coisas novas e dissecá-las, entendê-las, esgotá-las. E, depois, começar de
novo, noutra novidade que me satisfaça essa necessidade contínua.
Acho que, no fundo, eu gosto que a mudança seja uma
coisa permanente. Mudar abre todo um novo portal, coloca novas questões com
respostas para buscar, e isso é verdadeiramente entusiasmante.
Autoconhecimento é tudo, dá respostas. Depois, surgem novos questionamentos, e que bom que os tenho, e espero
continuar a tê-los, pois isso realmente me faz evoluir imenso.
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