domingo, 4 de agosto de 2024

Várias vidas numa só / noção de auto-valor / sonho FIRE

 

Olá, eu sou a Cláudia, tenho 32 anos, mas na realidade, sinto que já vivi 50 😂

 

Fora de brincadeiras, esta questão de eu ser uma pessoa tão mutável, é um tema que exploro muito, ao qual sou ambivalente, por um lado acho que não devia ser assim, por outro, cada vez mais aceito isso como minha essência e como forma de estar na vida, que pode ser muito positiva e que me faz sentir muito bem.

 

 

 

Vamos lá ver uma coisa. Apesar de achar que não existem propriamente verdades absolutas, existem pelo menos coisas constantes, mesmo no meio da "inconstância".

 

Uma coisa constante e dominante na minha vida sempre foi a mudança. Numa primeira fase (infância, adolescência), era a mudança imposta e que me incomodava. Sentia que não tinha um sítio, que não pertencia a coisa nenhuma, hoje era uma coisa, amanhã podia ser outra. Era uma imprevisibilidade, mas como não era eu que a escolhia, era difícil.

 

Depois, mais tarde, comecei a perceber que há algo na mudança que me atrai.

 

Esta necessidade de mudança e de novos ciclos manifesta-se essencialmente na componente educacional/profissional da vida (manifesta-se noutros campos, mas muito predominantemnete neste!). 

 

No secundário, escolhi Ciências, depois mudei para Humanidades. Na faculdade, entrei para Gestão de Recursos Humanos, depois mudei para Psicologia (porque sou entusiasta por perceber o funcionamento da nossa mente humana, acho mesmo fascinante, a um nível teórico, acabando por nunca propriamente exercer). Terminada a licenciatura e o mestrado (se hoje pudesse voltar atrás, ainda teria seguido por um doutoramento - possibilidade que coloquei volvidos muitos anos mas que acabei por não avançar - porque sou apaixonada por conhecimento), fui trabalhar para uma empresa de comunicação, era repórter, escrevia para uma revista, fazia reportagens. Depois saí e dediquei-me à minha própria empresa, em conjunto com uma amiga, a Mulher XL. Depois decidi ir vender casas. Pelo meio e até mesmo paralelamente (antes de ser mãe, sentia que tinha todo o tempo do mundo, e tinha, então chegava a ter 3 ocupações de uma vez só, ainda que houvesse sempre uma principal e outras pontuais), trabalhei em vendas, passei por todos os negócios de multimarketing (ganhei aversão e hoje digo, nunca mais), part-times perdi a conta, fui cliente mistério, fui vigilante de exames, escrevi para sites e revistas, fazia reviews a produtos e eventos, entre outros. Depois comecei a trabalhar em condomínios porque entretanto, ganhei uma nova paixão pelo imobiliário, e já que ser consultora não dava para mim (porque envolvia venda direta, coisa que aprendi que, e apesar de dizerem que "é para toda a gente", meus amigos, não é). Por fim, e é onde estou agora, comecei a trabalhar na universidade onde estudei, como administrativa.

 

 

Já fiz tanta coisa e sem absolutamente nenhum fio condutor. Ao ponto que tive de refazer o meu Linkedin e o meu CV porque era demasiada coisa e nada batia certo com nada. Hoje em dia, nem sequer me defino com o meu trabalho, quando digo "o que sou", digo "estou a trabalhar em". Porque me conheço e porque nesta jornada contínua de autoconhecimento, aprendi uma coisa valiosíssima sobre mim: eu coloco-me propositadamente em situações de mudança profissional, preferencialmente para coisas radicalmente diferentes.

 

Todas as experiências que tive e às quais me propus foram sempre acompanhadas por milhentas formações e cursos, algumas no âmbito das entidades onde as fiz, outras por iniciativa própria e como autodidata.

 

Na gaveta, já ficaram N projetos que não cheguei a iniciar, como ser instrutora de condução, personal organizer, ou candidatar-me a uma bolsa de doutoramento. Entre dezenas de outras ideias e projetos.

 

Sinto que a cada mudança destas, "morri" e renasci. Foram processos de morte e renascimento, porque acabei por ter personalidades e "personas" diferentes consoante as fases em que estava.

 

Se me perguntarem porque é que estas coisas "acabaram", antigamente eu atribuiría a fatores externos! É porque o estágio acabou e pagavam mal se continuasse, é porque o mercado estava mau para manter uma empresa aberta e precisava de um salário fixo, é porque não dava para viver a recibos verdes, é porque entretanto engravidei e precisava de algo mais estável, é porque vendas é um trabalho horrível etc etc....... MAS se há coisa que aprendi é que temos de assumir a RESPONSABILIDADE pelas nossas escolhas, e eu hoje olho para trás e vejo claramente que todas aquelas coisas acabaram porque eu decidi que já não cabiam mais na minha vida ou na pessoa diferente em que me tinha tornado depois de passar por elas. Da mesma forma, tudo o que ainda não fiz e quero fazer, são também por escolha minha, e está também nas minhas mãos, um dia decidir fazê-las. É sempre tudo interno, não dá para evoluir se continuamos a achar que o problema está no externo.

 

 

As minhas narrativas internas sobre isto

 

As minhas narrativas internas sobre este assunto têm variado largamente ao longo dos anos e considero que isto também faz parte do meu processo de desenvolvimento pessoal.

 

Inicialmente era assim: tenho de escolher algo que me apaixone e tornar-me boa nisso. Muito guiada pelo que o meu pai aconselhava (sempre foi e ainda é um dos meus melhores conselheiros a quem recorro quando tenho dilemas existenciais ou decisões de vida importantes, e apesar de muitas vezes decidir em contrário, gosto sempre de ouvir a perspetiva dele), preferencialmente alguma coisa com futuro, uma profissão que desse dinheiro.

 

Quando percebi que as profissões que davam dinheiro não davam para mim, porque geralmente envolviam matemática, então o meu discurso interno passou a ser: tenho de encontrar algo que goste, mesmo que não dê muito dinheiro, e tornar-me boa nisso.

 

Quando me apercebi, a certa altura, de que estava sempre a saltitar, já tinha este padrão bem identificado em mim, e comecei a questionar-me porquê, achava que tinha algum problema, não conseguia simplesmente "stick to it", independentemente do dinheiro que ganhava ou de gostar muito ao início, apaixonava-me e desapaixonava-me, ia em busca de algo diferente. O meu discurso interno era: tens um problema e tens de o resolver.

 

Ao longo do tempo, fui percebendo que o meu problema talvez não fosse assim tão problema. É o que é. Não posso forçar-me a ficar em algo que já não me satisfaz só para seguir aquela velha máxima do "não posso desistir porque desistir é para os fracos".

 

Aliás, ainda há relativamente pouco tempo, cerca de 2 anos, eu tive uma crise dessas. Estava a odiar o meu trabalho e fiquei 6 meses em modo depressão a achar que era uma desistente e que era uma fraca porque mais uma vez estava a desesperar para sair de onde estava porque estava a detestar aquilo que fazia e já não me dizia nada. Consegui ultrapassar essa neura e hoje em dia já não me acho nada fraca nem desistente por isso. Mas foi um período muito difícil, mesmo, esse.

 

Hoje eu escolho ter uma narrativa mais positiva. O que eu penso para mim mesma hoje é: ok, hoje tou aqui, amanhã sei que vou estar acolá. Sei que as coisas novas me entusiasmam porque adoro aprender.

 

Talvez a minha "missão" não seja encontrar uma única coisa que me satifaça por completo para o resto dos meus dias. Porque a verdade, é que duvido muito que exista uma única coisa que me satisfará por completo. O que me satisfaz por completo é ir atrás de coisas novas. 

 

Hoje em dia, o meu pensamento sobre isto é claro: sim, eu hoje estou aqui, e amanhã vou estar acolá, e isso não faz de mim fraca. Eu reprogramei-me para parar de pensar mal de mim mesma e falar mal para mim mesma e de alimentar os meus habituais discursos internos negativos por causa disto. O que fazemos para ganhar a vida é isso mesmo, o que fazemos para ganhar a vida. Não nos define. Há algo mais para além disso que nos define. E definitivamente há algo mais para além deste "saltitar constante" que acaba por definir parte de quem eu sou (desenvolverei mais abaixo), do que propriamente o que estou a fazer a determinado momento para pagar as contas.

 

A ligação disto com a minha noção de auto-valor



 

Se eu ler o meu CV de fio a pavio, ou o início deste post, ou simplesmente me relembrar de tudo o que fiz, se eu lesse isto sobre outra pessoa qualquer, eu ficaria orgulhosa. Pensaria, esta pessoa já fez de tudo! Já aprendeu tanto, já se expôs tanto, já se arriscou tanto!

 

 

E a verdade é essa! É que eu não tenho medo de arriscar! Eu não tenho medo nenhum de hoje sair de onde estou e amanhã começar uma coisa nova. Aliás, isso entusiasma-me imenso! Acho que é uma competência brutal, esta capacidade de me reinventar, e já estabeleci isso comigo mesma: sim, eu tenho uma capacidade brutal de me reinventar e de me adaptar a novas coisas!

 

E porque já ganhei tantas competências por fazer tantas coisas diferentes, sei que de hoje para amanhã e em caso de necessidade,  conseguiria procurar um outro qualquer emprego, mostrar que tinha capacidades para o aprender e por isso ser aceite, aprender efetivamente, tornar-me competente nele e ainda adaptar-me bem ao mesmo, por ter facilidade de adaptação. Tenho essa confiança e isso é bom!

 

No entanto, e estando consciente de que isto é uma contradição imensa (na qual estou a trabalhar para mudar esse chip), eu sinto que não tenho valor nenhum, que não tenho mérito nenhum, que nunca fiz nada de jeito, que não faço nada de jeito, etc. 

 

E porquê? Após pensar e matutar muito neste assunto, eu entendi que eu pude fazer todas estas coisas, porque nunca tive necessidade de sobrevivência extrema. Acredito que quem tem realmente necessidade de sobrevivência extrema não se possa dar ao luxo de fazer o que eu fiz, faço e sei que ainda vou fazer. Se pensarmos na Pirâmide de Maslow, eu realmente nunca tive de me preocupar com a bases dela. Então, no fundo, sempre vivi ali mais para o topo. As minhas mudanças e experimentações são muito à base desta busca de auto-realização constante, de autoconhecimento constante, de evolução e de experienciar a vida.

 

É o facto de saber que tive e tenho bases, que dificilmente irei passar fome, literalmente falando, que me dá a liberdade de experimentação. Eu nunca soube o que era isso, nem mesmo quando tinha trabalhos não remunerados, que mais uma vez, é um luxo e um previlégio, que não fiz nada para o merecer.

 

esse previlégio faz-me sentir culpa e vergonha, e por isso, sinto que nada do que fiz tem valor, porque apenas teria valor se o tivesse feito preocupada com a minha sobrevivência básica. Porque esta crença de sofrimento = merecimento está muito vincada em mim.

 

Acaba por ser uma exigência imensa para comigo mesma pois é como se dissesse, em loop "não vales nada por teres feito isso tudo, para ti foi fácil, nunca precisaste pensar, em como pagar a conta da água amanhã".

 

Aliás, ainda hoje falava com o meu pai sobre isso, e sobre outros temas que se passam na minha vida, e ele disse logo: valor? Mas tu já viste as coisas que já fizeste? Com a tua idade, eu ainda não tinha feito metade! Claro que tens valor!

 

Claro que o meu ego fica inflamado e orgulhoso com este tipo de afirmações (o que também não é bom, mas isso é todo um outro tema), mas ao memso tempo aquela voz "ya, mas só conseguiste, porque tiveste bases; sem isso nunca terias conseguido".

 

Eu sei que este pensamento é ambivalente e complexo, está certo e errado ao mesmo tempo, e é um dos meus objetivos de desenvolvimento pessoal atuais, é realmente, organizar este caos mental que gira em torno deste tema.

 

O que faria se não tivesse de trabalhar? A minha lista pós-FIRE

 

Quem me conhece sabe, que o meu objetivo é atingir o FIRE - Finantial Independence, Retire Early, aka Liberdade Financeira. E isto surge, porque eu me apercebi de que a minha vida ideal era mesmo acordar todos os dias e fazer o que me apetecesse, ter a vida que me apetecesse, ser a pessoa que me apetecesse. Ou poder iniciar projetos, envolver-me neles e depois abandonar, quando me apetecesse, sem ter de pensar em ganhar um salário para pagar as contas (porque sim, vamos lá ver, eu tenho algum previlégio, mas não sou rica ao ponto de poder fazer isso só assim).

 

Porque, realmente, eu acho que me encontrei nesse ciclo-contra-ciclo. Já corrigi o meu discurso negativo interno de que isso era um problema, então se não é um problema, então se realmente é uma coisa que eu quero fazer na vida, este é um caminho muito plausível.

 

Então, organizei as minhas finanças, comecei a poupar mais e a investir ainda mais e hoje já tenho alguns rendimentos completamente passivos, os quais não utilizo para gastos recorrentes, utilizando-os para aumentar o bolo dos investimentos e um dia chegar ao tão almejado FIRE. O que, no meu timeline, se o conseguisse em 10/15 anos, seria excelente.

 

 

Saber que teria as minhas despesas de sobrevivência asseguradas e pudesse fazer o que eu quisesse quando quisesse, seria um sonho, e ao mesmo tempo penso, não é o que já tenho feito sempre? Sim, tenho feito sempre isso, no fundo... com a preocupação de ganhar dinheiro. E se conseguisse tirar essa preocupação da equação?

 

Então, no outro dia sentei-me e decidi organizar as minhas ideias de tudo o que gostaria ainda de fazer, numa "lista pós-FIRE". Achava que iriam ser só 3 ou 4 coisas, ideias e projetos que foram ficando na gaveta, e acabei por encher uma página. Umas coisas puxaram outras, as ideias começaram a surgir. E foi de tudo, desde o resgatar daquela ideia de ir a casa das pessoas organizar as dispensas e as gavetas e as vidas delas, como fazer retiros espirituais, como tirar uma licenciatura em filosofia.

 

Então eu entendi realmente, e confirmei ainda mais esta minha certeza: eu quero passar o resto da minha vida, não a dedicar-me a uma só coisa que me apaixone, mas sim a começar novas coisas que me apaixonem, esgotá-las até me desapaixonar, e começar de novo. É realmente esta a mudança que me apaixona e não posso ter medo dela ou perpeturar a expetativa social de que temos de nos especializar em algo e ficar na mesma coisa até à "idade da reforma".

 

Toda essa ideia para mim é uma ilusão completa que já deixei cair há muito.


Acho que, chegando a esse ponto, de liberdade total, o meu desafio seria outro, seria o de escolher por onde começar, porque a verdade é que nos sentimos overwhelmed quando temos demasiada escolha, mas vou deixar esse problema (bom) acontecer quando tiver de acontecer e não já sofrer com ele por antecipação.

 

Hoje ganhei uma nova perspetiva

 

 

 Porque o Universo realmente nos manda sinais, nem a propósito hoje estava a ouvir um podcast do Maus Hábitos (descobri recentemente e só amo, amo, amo) em que, na miscelânea de assuntos que abordam em cada episódio, falaram precisamente nesta questão da mudança. De um modo resumido, o que eles referem é que este processo de "desapaixonar" acaba por ser quando atingimos um objetivo e depois existe uma espécie de "nada". Ou seja, nós acabamos por colocar objetivos, apreciamos o processo de os atingir, entusiasmamo-nos com o processo de criar, e de fazer, e de lançar, e depois existe um vazio. Depois de atingir um objetivo, precisamos atingir um novo objetivo. E isto ressoou muito comigo. Enquanto que muitas pessoas acabam por definir novos objetivos dentro da área daquilo que já fazem, ou que gostam, ou na qual são bons, eu tenho essa tendência para criar objetivos novos continuamente em coisas que são novidade. 

 

Mas, enfim, nada como ouvir. É logo no início do episódio.

 

 

Resumindo

 

 

Este processo constante de desenvolvimento pessoal, é isto mesmo: aceitar que hoje sou uma pessoa, mas amanhã serei outra. Nunca somos a mesma pessoa que éramos ontem. No meu caso, isto reflete-se muito a nível de "o que faço na vida". O que é facto é que adoro aquele thrill da novidade e adoro o processo de aprender tudo sobre essa coisa e, assim que percebo que essa coisa já não me desafia, já não é novidade, e sobretudo, já não estou a aprender nada com ela, então, deixa de fazer sentido. 

 

Esta minha coisa de estar sempre a mudar acaba por servir uma das minhas missões (acho que são várias, não uma única), que é a de aprender coisas novas. Então, antes inconscientemente e agora muito conscientemente, eu sei que vou sempre atrás de coisas que me permitam simplesmente aprender, estar exposta a coisas novas e dissecá-las, entendê-las, esgotá-las. E, depois, começar de novo, noutra novidade que me satisfaça essa necessidade contínua.

 

Acho que, no fundo, eu gosto que a mudança seja uma coisa permanente. Mudar abre todo um novo portal, coloca novas questões com respostas para buscar, e isso é verdadeiramente entusiasmante.

 

Autoconhecimento é tudo, dá respostas. Depois, surgem novos questionamentos, e que bom que os tenho, e espero continuar a tê-los, pois isso realmente me faz evoluir imenso.

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